Luzes e sombras no exercício da medicina III

Paradoxalmente, porém, a riqueza de meios pode condicionar o desconforto e o mal-estar social. Nem todos podem usufruir os benefícios oferecidos à Medicina. Repete-se então o que se observa no campo social: a riqueza e a miséria caminham juntas!

No campo social, assistimos e convivemos, nos grandes centros urbanos, com o contraste: de um lado, a opulência e o desperdício; de outro, a miséria, com grande número de seres humanos que não têm o mínimo indispensável a uma vida digna.

A riqueza de recursos tecnológicos por vezes torna-se motivo de impasse. Seja porque o seu emprego é muito oneroso e então passa a constituir privilégio de reduzida parcela da população; seja em relação à eficácia dos seus resultados; ou ainda por seu mecanismo, em que o médico se transforma num simples operador de máquina, e o paciente em quase objeto.

O imprescindível relacionamento harmônico entre o médico e o paciente, deixa de existir como calor humano. Ou é reduzido a um mínimo inexpressivo.

Modernidades há que atrapalham em vez de facilitarem o estabelecimento do bem comum. Os meios requintados podem gerar desconfortos, o que não é exclusivo da Medicina.

No desempenho da profissão médica, é preciso ?temperar? a tecnologia com o calor humano, pois não há máquina capaz de substituí-lo. A não utilização dos recursos proporcionados pela tecnologia seria um retrocesso. Usá-los com critério e bom senso é o que importa, especialmente quando a dúvida nos acarreta um impasse: encaminhar o paciente a determinado procedimento de risco, que pode precipitar-lhe a morte, mas é o recurso heróico para o seu caso. Daí a importância das conferências médicas, mesmo quando o paciente está sob os cuidados de uma equipe, porque diferentes conceituações propiciam oportuno debate, construtivo, o que certamente resultará favorável para o doente e tranqüilizador para os profissionais empenhados.

Ah, se os médicos soubessem a força que têm!

Não me refiro à força pela força, evidentemente; nem por meio de greve reivindicatória, mas à força do Amor e da Misericórdia. Parece utopia acenar com a força do Amor, neste início do século XXI, terceiro milênio. Mas não é! O Amor prevaleceu sempre sobre o ódio e a prepotência. A retribuição do mal com o mal não coaduna com os sentimentos cristãos. Ao contrário, nivela por baixo. Por mais limitado que seja alguém, ante os fatos e acontecimentos, haverá de compreender e reconhecer o bem recebido. A Doutrina de Cristo, tão bem descrita pelo patrono dos médicos São Lucas fundada no Amor, prossegue vitoriosa há dois mil anos, rumo à Eternidade. Mas, poderão argumentar, Cristo é a própria Divindade. Contudo, os exemplos de que só o Amor constrói e permanece, multiplicam-se, como se pode provar lembrando São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, considerado o Pai da Caridade, cuja obra persiste, em todo o mundo, há mais de quatro séculos, sempre muito atuante. Outro exemplo, mais recente, é o do líder indiano, Mahatma Gandhi, que obteve a independência do seu país, vencendo, pacificamente, por meio do Amor fraterno, a dominação inglesa. Exemplos mais recentes ainda: Madre Tereza de Calcutá, já beatificada pela Igreja, por Ato do Papa João Paulo II. Alias, também ele, João Paulo II, viveu intensamente o Amor fraterno. Aqui no Brasil, a religiosa Irmã Dulce, no Estado da Bahia, desenvolveu intensa atividade assistencial, contrastando com a sua fragilidade física, Ela, como o Papa João Paulo II extremamente fragilizado fisicamente a concretizarem o que afirmou o apóstolo São Paulo: ?Quando sou fraco, então é que sou forte?. (II Cor 12,10).

Exemplo edificante acontece aqui, em nosso meio: O trabalho desenvolvido pela médica dra. Zilda Arns Neumann, à frente da Pastoral da Criança. Os benefícios prestados á ultrapassaram fronteiras. Tudo com base no Amor e na Misericórdia.

Ary de Christan – Membro Fundador da Academia Paranaense de Medicina

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