O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a emitir sinais contraditórios sobre sua anunciada disposição de dialogar com a oposição. Depois de garantir no sábado ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que deixaria de fazer comparações entre seu governo e o de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, a quem disse pretender convidar para uma conversa, Lula retomou o ataque aos rivais durante discursos no interior de Mato Grosso. Em Barra do Bugres, na inauguração de uma usina de biodiesel, o presidente afirmou que os tucanos ‘mentiram’ à população quando seguraram o dólar abaixo do valor do real, no início do governo de Fernando Henrique Cardoso.
"Todo mundo sabe o que foi o dólar um por um neste país. Sabem o que foi quando mentiram ao povo brasileiro quando o real valia mais que o dólar. Nunca valeu e quando as coisas se ajustaram muita gente foi dormir rico e acordou quebrado", afirmou, ao dizer que nunca vai ‘anunciar mágica’ para o País.
Antes, diante de uma platéia de agricultores em Sapezal, cidade a 480 quilômetros de Cuiabá, Lula disse que o País vivia uma situação ‘delicada’ durante o governo FHC. "O Brasil não conseguia exportar o que produzia e tinha pouca reserva em dólar para garantir a exportação e a importação", afirmou.
Num vaivém de declarações, o presidente voltou a dizer ontem que quer conversar com toda a oposição, mas não quis citar especificamente o nome de Fernando Henrique – que ironizou o convite para o diálogo. Ao ser indagado se realmente iria chamar o antecessor, Lula respondeu que ‘pretende’, mas emendou: "Eu não vou nominar com quem eu vou conversar. Começo na próxima semana uma rodada de conversas com muita gente", garantiu, ao dizer ainda que falaria com ‘todas as forças políticas’. Anteontem, o próprio Fernando Henrique e alguns representantes da oposição deram declarações contra eventual conversa com o presidente.
"Vou conversar com todo mundo. Não vou separar o Brasil entre situação e oposição porque a eleição acabou", disse, em uma rápida entrevista, ao fim da visita a Barra do Bugres. "Agora nós temos o governo e temos o Congresso Nacional. Nós temos de separar o que é aquilo que a pessoa tem de ideologia e que não vai ser votado no Congresso e temos de pensar nos projetos de interesse do País.
Acompanhado do governador Blairo Maggi – seu mais novo e fiel aliado -, Lula falou por meia hora e, apesar das críticas, disse que vai precisar de todo mundo para governar. "Eu certamente vou precisar do apoio dos 27 governadores, dos 81 senadores e dos 513 deputados", disse. Ao ser indagado sobre o conselho de ex-presidentes, que teria cogitado criar, respondeu, quase citando seu slogan de campanha: "Eu não sei. Deixem-me trabalhar que eu vou pensar direitinho no que vou fazer.