Quito, 24 (AE) – Mesmo antes de chegar a Quito, hoje à noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha o nome envolvido numa acirrada disputa política. O prefeito de Quito, Antônio Ricaurte, acusou o presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, de tirar da agenda oficial a entrega das chaves da cidade a Lula, amanhã (25), por causa de divergências partidárias. “Quito se sente orgulhosa de receber o presidente Lula e lamenta a atitude de Gutierrez de cancelar a sessão solene do município para declará-lo hóspede ilustre”, protestou.
Lula chega ao Equador num momento de fragilidade política de Gutiérrez. Eleito em 2002 pelo pequeno Partido Sociedade Patriótica, com apoio de movimentos sociais e sindicais de esquerda e entidades indígenas, Gutiérrez enfrenta hoje uma rejeição ao governo de mais de 70%. Ricaurte é do Pachakutik, partido ligado ao movimento indígena, que ajudou a eleger Gutiérrez e atualmente lhe faz oposição. Ele está no comando da cidade há apenas um mês, no lugar do prefeito Paco Moncayo, da Esquerda Democrática, candidato à reeleição em outubro.
Diplomático, Lula avisou o Itamaraty que não entraria na polêmica. Sem as chaves da cidade, ele recebeu hoje, em cerimônia no palácio presidencial de Carondelet, a condecoração da Ordem Nacional do Mérito. A visita foi notícia em todos os jornais equatorianos. Esperado com ansiedade, o presidente assinará acordos de cooperação nas áreas de energia, telecomunicações e saúde. A pauta de conversas inclui a construção de dois aeroportos e da Hidrelétrica de São Francisco com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A estatal Petroecuador também pedirá à Petrobras assistência técnica para a reestruturação. A Petrobras tem dois campos na Amazônia equatoriana e quer aumentar os investimentos. Com a economia dolarizada, o país usa receitas da venda de petróleo para pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de US$ 15 bilhões.
Comércio – Nos primeiros cinco meses do ano, o Equador exportou para o Brasil US$ 42,9 milhões – US$ 37 milhões em petróleo e derivados e o restante em chocolates, conservas, remédios, sucos de frutas e outros. O intercâmbio comercial entre os dois países ainda é baixo. Atualmente, 40% das exportações do Equador são para os Estados Unidos.
“Mas os acordos não são excludentes”, ressalva o embaixador do Brasil, Sérgio Florêncio. “Vamos mostrar ao Equador as vantagens que pode tirar do Mercosul (Mercado Comum do Sul) e do seu amplo potencial de comércio.”
Nas pouco mais de 24 horas que passará em Quito, Lula também assinará acordos de transferência de experiências na área social. Ele quer exportar programas como o Bolsa Família, que paga de 50 a 95 reais para famílias carentes, e o Sistema Único de Saúde (SUS). No Equador, 65% dos 13 milhões de habitantes vivem abaixo da linha da pobreza.
Lula vira centro de disputa política no Equador
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