Depois de sucessivas ameaças do Uruguai de abandonar o Mercosul, reiteradas também pelo Paraguai, o governo Luiz Inácio Lula da Silva decidiu, finalmente, analisar os entraves ao ingresso de produtos desses países no Brasil e corrigir os financiamentos oficiais de obras e investimentos de empresas nacionais nesses países

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A missão de demover os vizinhos de uma atitude mais drástica e recuperar a liderança brasileira na região caberá ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que visitará hoje e amanhã Montevidéu (Uruguai) e, nos dias 25 e 26, Assunção (Paraguai)

A viagem tornou-se mais relevante por dois fatores relacionados à reunião de Cúpula do Mercosul dos dias 20 e 21 de julho, na Argentina. Primeiro, porque esse encontro formalizará o ingresso da Venezuela como membro pleno do bloco, ou seja, de mais uma economia de porte maior da América do Sul, cujo presidente, Hugo Chávez, disputa sempre a liderança dos projetos nos quais envolve seu país. Seria um desastre ver o evento marcado por queixas dos sócios menores ou mesmo pela eventual decisão de ambos de denunciar acordos do bloco

Segundo, porque a reunião de cúpula dará início à presidência brasileira do Mercosul, que se estenderá até 31 de dezembro de 2006. A renúncia de dois sócios seria debitada na conta da presidência brasileira e viraria munição para os candidatos que se opõem à reeleição de Lula, cuja política externa centrou-se, pelo menos na retórica, no fortalecimento do bloco

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Nos últimos meses, quando os sinais de insatisfação de Montevidéu e de Assunção se acentuaram, Amorim reconheceu que as economias menores não se beneficiaram do Mercosul e que aumentaram as assimetrias entre os países. Daí sua opção de comandar uma delegação com representantes de cinco ministérios, do BNDES e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)

As queixas de Montevidéu e Assunção se intensificaram por causa dos déficits acumulados pelo Uruguai no comércio com o Brasil desde 2003 e pelo Paraguai desde 2002. Boa parte das exportações uruguaias e paraguaias para o Brasil ainda enfrentam travas, mesmo após 11 anos de aplicação das regras de livre comércio. Em 2005, o Brasil teve superávit de US$ 355,9 milhões com o Uruguai mais que o dobro de 2004. Com o Paraguai, o saldo alcançou US$ 642,0 milhões

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Os dois países também se queixam das dificuldades de liberação dos recursos dos BNDES e do Programa de Incentivos às Exportações (Proex) para obras de infra-estrutura. Atualmente, o BNDES tem planos de financiamento de duas obras no Paraguai – a Rodovia 10, também com recursos do Proex, e a segunda ponte sobre o Rio Paraná. BNDES e Proex financiam a Termelétrica de San José, no Uruguai

A rigor, Uruguai e Paraguai seriam os beneficiários do novo Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul, que deverá financiar a redução das assimetrias entre os sócios do bloco. Mas, em princípio, o fundo contará com apenas US$ 100 milhões em 2008, cifra considerada insuficiente para deslanchar economias tão estancadas