Diz-se que a pressa é inimiga da perfeição. Talvez inspirado nesse pensamento, embora mais provável que enrolado em mil dificuldades, o presidente Lula tem dito que não tem pressa para formar o ministério do seu segundo governo. Do segundo, pois o que aí está é do primeiro e é até possível discutir sua legitimidade. O presidente foi reeleito, portanto recebeu um mandato do povo para governar o País por mais quatro anos. E tomou posse do cargo. Portanto, é indiscutivelmente o chefe da nação. O mesmo não se pode dizer do seu ministério, pois à exceção do dirigente da Advocacia Geral da União, que seria o primeiro ministro nomeado para o segundo mandato, os demais tiveram seus cargos de confiança encerrados ao final da administração passada. E a vitória de Lula não legitima sua permanência nos cargos de ministro, a menos que exarados atos formais de nomeação e posse.

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Mas, deixemos para lá isso que alguns interpretam como preciosismos burocráticos e imaginemos que são ministros, embora já devessem ter ido para casa, a menos que fossem novamente convidados e nomeados para os cargos. Na semana passada, Lula, pela undécima vez, disse que não tem pressa para anunciar a reforma ministerial do seu segundo mandato. Não é reforma, mas na verdade formação de um ministério. A divulgação dos nomes dos novos membros da sua equipe era esperada para dezembro. De adiamento em adiamento, chegou a haver um certo frenesi nos meios políticos quando o ministro Tarso Genro (das Relações Institucionais) disse que Lula anunciaria nesta semana.

?Houve poucos momentos na história do Brasil, a não ser na época do regime militar, que um governo teve tanta tranqüilidade para montar um governo como eu estou tendo. Eu não tenho pressa, não tenho data, ninguém está me cobrando nada. É um problema meu, que vou fazendo na medida que achar que devo fazer?, declarou Lula terça-feira última, na abertura da Feira Internacional da Construção, em São Paulo.

Estaria o presidente realmente tão tranqüilo? Ou com dificuldades para administrar o condomínio que o levou novamente à presidência, no qual cada um quer uma parte maior que o outro no bolo do governo?

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Seja uma coisa ou outra, o fato é que há um equívoco do presidente ao imaginar que não tendo data para formar o ministério e ninguém estar lhe cobrando nada pode refestelar-se em sua poltrona no Planalto e deixar as coisas como estão, para ver como é que ficam. Na verdade, o ministério não é do presidente, embora ele teoricamente possa decidir sobre os nomes escolhidos e nomeá-los sem dar satisfações a ninguém. Um ministro não é ministro do presidente, mas ministro de Estado, vale dizer, do Brasil. Suas responsabilidades são bem maiores do que apenas agradar o chefe. Cada ministro, dentro do âmbito de sua pasta e algumas existentes nem sequer têm âmbito, mas apenas título, tem obrigações para com o País, com a nação brasileira. E a demora, a indecisão, vão consumindo o curto mandato de 4 anos que vai ser ainda reduzido pela campanha sucessória de Lula. Enquanto isso, os problemas da nação se agravam e se acumulam, a ponto de hoje muita gente pensar que foi bom forçar os ?quatro anos para Sarney?, mas já é interessante pensar-se em um mandato presidencial um pouco mais longo, sem reelegibilidade. A tranqüilidade de Lula, que se diz livre para nomear o ministério quando bem lhe aprouver, está atrasando o Brasil. Tem muito ministro do governo passado que está ainda no cargo, mas louco para que lhe digam se fica ou se sai. A ameaça do desemprego não é nada agradável. E há ainda os que não querem ficar, como o da Justiça, justamente o homem sob cujas ordens está a Polícia Federal e a obrigação do combate à criminalidade que não pára de crescer.