Lula se reúne com socialistas após encontro com Chirac na França

Após ter cumprido a parte oficial do seu programa em Paris, os encontros com o presidente Jacques Chirac e o primeiro-ministro Jean Pierre Raffarin, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu reunir na residência do embaixador Marcos Azambuja alguns amigos parisienses e a nata dos socialistas franceses. Entre eles, quatro antigos chefes de governo, homens que governaram o país nesses últimos 20 anos: Lionel Jospin, Michel Rocard, Pierre Mauroy e Laurent Fabius.

Jospin, desde que abandonou a vida pública, quando de sua derrota presidencial no ano passado para Jacques Chirac, vive socialmente recolhido e são raras as ocasiões em que tem sido visto em público, a última vez no enterro da jornalista e escritora Françoise Giroud.

O ex-primeiro-ministro francês continua o mesmo, pouco fala, mas arriscou algumas perguntas a seu amigo Lula. Antes disso, havia justificado sua presença dizendo tratar-se de “uma visita do coração”. Fora do time socialista francês, também lá se encontrava o ex-presidente Mário Soares, de Portugal.

Os quatro ex-governantes passaram a fazer perguntas a Lula sobre esses primeiros tempos de poder, como se estivessem reproduzindo uma entrevista coletiva. A ex-ministra do Ensino, Segolene Royal, mulher do atual primeiro secretário do PS, François Holande, cumprimentou o presidente por seu discurso em Davos, a seu ver uma forma de tirar a poeira desse fórum econômico, cujo interesse já começa a declinar.

Todos aprovaram sua ida a Davos, na Suíça, onde pôde repetir um discurso na mesma linha do proferido no dia anterior, em Porto Alegre, sem chocar ninguém. O interesse dos socialistas se concentrou mais na Venezuela, no presidente Chávez, tendo Lula reafirmado que se trata de uma posição legalista, que permite preservar a democracia no continente latino-americano. “Se admitimos a queda de um governo legítimo, eleito regular e constitucionalmente, amanhã isso poderá acontecer com outro país da América Latina”, advertiu o presidente.

Lula tem repetido nesses últimos dias que, pela primeira vez, não visita a Europa como dirigente sindical ou de um partido político, mas, sim, como presidente da República de um País e na busca de seus interesses. Isto ele já havia dito num encontro com Jacques Chirac, lembrando que virá a França quantas vezes for necessário ao interesse brasileiro.

Para seus interlocutores socialistas, Lula disse que muitas mudanças devem ocorrer na América Latina, chamando atenção também para a personalidade do novo presidente do Equador, Lucio Gutierrez, recentemente empossado. De todos os antigos governantes franceses presentes, o mais calado foi Roland Fabius, o homem que operou a guinada para o centro, substituindo o governo de esquerda de Pierre Mauroy, que governou nos primeiros tempos do presidente François Mitterrand.

Todos queriam saber como ele havia sido recebido por Jacques Chirac.

“Muito bem”, disse Lula, “da mesma forma que fui bem recebido também pelo presidente Bush, nos Estados Unidos”. Lula contou que saiu do Palácio do Eliseu com a promessa do apoio formal da França e do presidente Jacques Chirac à reivindicação brasileira de integrar o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Essa foi a única intervenção direta de Jospin, indagando se Chirac se empenharia pessoal e publicamente, ocasião em que interferiu o ministro Celso Amorim, para esclarecer que seria o ministro do Exterior da França, Dominique de Villepin, que tomaria as iniciativas necessárias. Um ar de descrença tomou conta da platéia socialista.

Lula explicou que até então, só a India aparecia citada nos discursos franceses como um país que poderia ocupar esse lugar. A conversa durou até o momento em que Lula foi lembrado por seu ajudante de ordens de que havia chegado a hora das despedidas pois deveria rumar para o aeroporto, onde o esperava o já famoso “sucatão” que o levaria de volta para o Brasil.

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