No sexto dia da operação-padrão dos controladores de tráfego aéreo e véspera do feriado de Finados, houve nesta quarta-feira (1.º/11) atrasos de até seis horas nos vôos nos principais aeroportos do País. A crise provocou irritação e cobranças no Palácio do Planalto. "Quer dizer que nós estamos reféns dos controladores?", quis saber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com assessores ainda na terça-feira. Nesta quarta-feira, as autoridades do setor cederam às reivindicações dos operadores: os procedimentos da greve branca vão virar padrão das operações aéreas no País.
Lula mostrou irritação no encontro no Planalto e chegou a dar socos na mesa. "Se eles estão fazendo operação-padrão, quer dizer que antes estavam fazendo errado?" O presidente não considerou satisfatória as alegações dos assessores. Nenhum deles admitiu a realização da greve branca. Além do comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, estavam presentes os ministros da Defesa, Waldir Pires, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, os presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), José Carlos Pereira, e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi.
O presidente cobrou da Anac o porquê da liberação de novas linhas para as empresas de aviação, apesar de operadores alegarem falta de pessoal e de estrutura para monitorar vôos. Quis saber ainda o motivo de a Aeronáutica ter cancelado, em junho, um concurso para contratar 144 controladores. Lula chegou a avisar, incisivo: "Se vocês não derem uma solução, eu vou dar".
Nesta quarta-feira, antes de embarcar para quatro dias de descanso em Salvador, o presidente quis saber se algo havia mudado na situação dos aeroportos. Dessa vez, a cobrança recaiu sobre Dilma. O presidente não gostou de saber por meio de reportagem publicada pelo Estado que, em outubro de 2003, um estudo do Conselho de Aviação Civil (Conac), alertava para o risco de colapso no sistema de controle aéreo, por causa da retenção de investimentos no setor. Pediu a Dilma que verificasse o que aconteceu com o estudo, enviado à Casa Civil.
Apesar da irritação de Lula, a situação deve se normalizar só no início de 2007, prazo definido pela Aeronáutica para controladores de Brasília deixarem de operar no limite da segurança. O novo padrão será o da greve branca: cada operador vai acompanhar no máximo 14 aviões. "Precisou acontecer um acidente como o do Boeing da Gol para o País dar atenção aos problemas do tráfego aéreo", disse Ernandez Pereira da Silva, diretor do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo.