Brasília, 4 (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe amanhã (4) o secretário de Estado americano, Colin Powell, para uma reunião com pauta em aberto, que comporta desde o reforço da ajuda ao Haiti até uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), passando pela inspeção internacional na planta de enriquecimento de urânio em Resende (RJ). Não é, porém, o tipo de encontro que produz um resultado concreto e imediato.
“Para nós, é um gesto político de apreço e o reconhecimento da importância da política externa brasileira”, avaliou o diretor-geral do Departamento das Américas do Norte, Central e Caribe do Itamaraty, Marcelo Vasconcelos. “É uma visita normal de trabalho que, na verdade, foi cogitada várias vezes e por problemas de agenda não tinha sido realizado até agora.” Powell já esteve em outros países da região, como Chile, Argentina, Colômbia e Peru.
Um tema que certamente será levado pelo lado brasileiro à reunião é a reforma do Conselho de Segurança, com a abertura de uma vaga permanente para o Brasil. No entanto, o Itamaraty não espera nenhuma posição formal dos Estados Unidos a respeito. Até o momento, o governo americano já manifestou apoio à tese de que a ONU precisa ser fortalecida e, para isso, necessita de uma reforma. No entanto, só expressou apoio à inclusão de Japão e Alemanha no Conselho de Segurança.
Em contrapartida, o Brasil dificilmente escapará de pressões para assinar o protocolo adicional da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que prevê inspeções mais rigorosas nos países associados. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tem dito que o Brasil “nunca disse que não assinaria o protocolo”. Mas, segundo Marcelo Vasconcelos, o País prefere esperar a reunião que a AIEA programou para maio de 2005 para então tomar uma posição a respeito.
Haiti
Depois de Brasília, Powell deverá ir ao Haiti. Portanto, esse assunto será abordado. O Brasil lidera as forças de paz naquele país, mas enfrenta dificuldades em desempenhar suas tarefas, principalmente após a passagem do furacão Jeanne pela ilha. Hoje, há cerca de 2.000 soldados atuando na área, embora a previsão fosse de 6.000. Alguns países que prometeram enviar ajuda ainda não o fizeram e, por isso, é possível que Brasil e Estados Unidos reforcem o pedido de cooperação internacional.
Lula e Powell também poderão discutir a situação na Venezuela, que continua dividida após o referendo que manteve no cargo o presidente Hugo Chávez. “Esse é um ponto de preocupação para o Brasil, os Estados Unidos e todos os países que querem ver a democracia consolidada na Venezuela”, disse Vasconcelos. Outro tema possível é a Colômbia, onde a atuação de guerrilhas e a produção de drogas é foco de atenção. O Brasil já se ofereceu para intermediar o diálogo entre o governo e os grupos de oposição, mas até hoje não houve resposta.
Outro possível tema na reunião é o Iraque. Os Estados Unidos estão propondo um conselho internacional para discutir a situação naquele país. O Brasil não quer participar das discussões se elas forem tratar de financiamento ou reforço militar. No entanto, se a idéia for discutir a reconstrução, o País gostaria de participar. O presidente Lula já enviou carta a diversos líderes mundiais e ao papa João Paulo II propondo uma reunião desse tipo. O Brasil se prepara para reabrir sua embaixada em Bagdá, assim que houver condições de segurança.