Aumentaram as pressões dentro do PT para que o governo federal abra os arquivos secretos do regime militar (1964-1985). No final da tarde de hoje, chegou ao gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um dossiê com cópias de documentos mostrando que o banco de dados sobre a Guerrilha do Araguaia, maior conflito rural ocorrido no governo militar, entre 1972 e 1974, não foi destruído durante o processo de redemocratização do País, o que contraria afirmação do ministro da Defesa, José Viegas.

Também foram enviados ao presidente Lula uma série de fotografias de militantes do PC do B mortos em combates com tropas do Exército e nomes de militares vítimas de “fogo amigo”.

A pesquisa encaminhada ao Planalto relata que, em 1993, oito anos após o último governo militar, o então ministro da Justiça, Maurício Corrêa, recebeu relatórios das três Forças Armadas sobre 144 desaparecidos brasileiros. Neles, e em especial no documento da Marinha, constam informações e datas de morte da grande maioria dos guerrilheiros – cópias dos relatórios também foram enviados a Lula. “Sobre os 33 guerrilheiros ainda vivos em janeiro de 1974, a Marinha não forneceu apenas as datas de morte de Líbero Giancarlo Castiglia, Paulo Mendes Rodrigues e Paulo Roberto Pereira Marques”, informa o dossiê.

A pesquisa destaca que, nos relatórios, há informações atualizadas até 1991, como são os casos sobre os guerrilheiros Daniel Ribeiro Callado, João Carlos Haas Sobrinho e Pedro Alexandrino.

O dossiê preparado dentro do PT faz um elogio velado a militares da reserva que vêm contribuindo com informações e aberturas de arquivos pessoais. No documento, os pesquisadores acusam membros da Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça de atrapalharem as investigações sobre a localização dos corpos dos guerrilheiros do Araguaia. “Vários oficiais soltaram documentos como relatórios, em anexo, e fotografias, inclusive de prisioneiros que, enviadas à comissão, em 1996, não receberam qualquer encaminhamento, como atestam protocolos e matérias de imprensa. Alguns, como o coronel Lício Ribeiro Maciel, têm fornecido informações e entrevistas desde novembro de 2003”, salienta o dossiê.

A pesquisa aponta vários indícios de que um grupo dentro da comissão atuou para que o governo deixasse literalmente no armário ossadas de guerrilheiros que estão na Polícia Federal desde 1996, sem identificação. “As mesmas pessoas que dizem aos jornais que este governo fez acordos com militares são as que têm dificultado identificações e pesquisas sobre a Guerrilha”, alerta o relatório.

O dossiê acusa um assessor do governo – sem citar nome – que teria retirado, em novembro de 2003, caixas de ossos da Polícia Federal de Brasília, que hoje se encontram dentro do armário da Comissão. “Quatro pessoas (da comissão) mexem nesse assunto e não permitem que um trabalho sério seja desenvolvido por outras pessoas, que desejam fazê-lo.”

O dossiê inclui fotografias de prisioneiros desaparecidos feitas em 1974 e os relatórios da guerrilha, como Operação Papagaio, Operação Sucuri e Manobra do Araguaia. Esses relatórios contêm datas de morte e prisão de guerrilheiros e alguns nomes de militares mortos, nomes de moradores investigados e lista de oficiais e agentes participantes das tropas regulares. Foi incluído também o relatório parcial da Operação Marajoara, com informações até 12 de janeiro de 1974, no qual se afirma a prisão de alguns dirigentes do PC do B, mortos sob tortura, como Carlos Nicolau Danieli, e a constatação de que havia 33 guerrilheiros no Araguaia, incluindo quatro comandantes.

Nesse documento, as Forças Legais afirmam que as Forças Guerrilheiras do Araguaia haviam perdido, entre outubro de 1973 e janeiro de 1974, seu comandante geral Maurício Grabois, primeiro orador da Assembléia Constituinte de 1946, entre outros. Segundo o dossiê, o prisioneiro que aparece em uma das fotografias, já divulgada na imprensa, seria do desaparecido Cilon da Cunha Brum Simão, que atuou no mesmo destacamento do então guerrilheiro José Genoino, hoje presidente nacional do PT. Gaúcho, Simão era estudante de economia da PUC de São Paulo. Por fim, o dossiê pede ao presidente que os moradores do Sul do Pará onde ocorreu a guerrilha, sejam indenizados pelos danos sofridos no período.
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