O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou ontem, no Rio de Janeiro, o presidente Fernando Henrique Cardoso e a política financeira do governo, em evento no qual recebeu o apoio de parte do PMDB fluminense.
Segundo Lula, com a atual taxa de juros – 18% ao ano -, “nada é mais seguro que viver às custas dos lucros especulativos no Brasil. Quem tem risco é o investidor produtivo”. O petista afirmou que, no País, “os juros oferecidos pelo governo para banqueiros comprarem títulos são mais caros que as taxas de lucros de uma empresa. Fica mais fácil ganhar dinheiro especulando do que investir na produção sem a certeza de que se vai ter lucro”.
Segundo o petista, “o Brasil é o único país do mundo em que o presidente da República diz que não pode reduzir os juros porque quem reduz é o mercado. É uma contradição: quem aumenta é o governo, mas quem reduz é o mercado”.
Para embasar sua argumentação, Lula citou como exemplo o presidente do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), Alan Greenspan. “Quando houve o atentado às torres, em 11 de setembro (de 2001), o presidente do Banco Central americano tomou a iniciativa (de reduzir os juros) para reativar a economia.”
Lula acusou o Fernando Henrique e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, de transmitirem a idéia pessimista de que o País é uma “catástrofe”, está “quebrado” e tem barreiras intransponíveis a serem enfrentadas. “Quando vejo o presidente da República e o ministro da Fazenda falarem da situação econômica, a impressão que tenho é que eles passam a idéia de que não dá para fazer nada. Se eu fosse acreditar na catástrofe que se tenta vender do Brasil, que não tem jeito, por que estaria me candidatando? Este País nunca vai quebrar.”
Adesão
Ao discursar para uma platéia de mais de cem políticos e militantes do PMDB fluminense, Lula foi muito aplaudido e ovacionado em diversos momentos. “Nenhum outro líder reúne as condições políticas e morais de Lula”, afirmou o deputado estadual do PMDB Jorge Picciani, secretário-geral do partido no Estado.
O deputado esclareceu, entretanto, que o apoio se restringe a Lula e não significa a adesão à campanha da governadora petista Benedita da Silva, que tenta a reeleição. Indiretamente, o apoio de prefeitos e políticos do interior pode render votos à governadora em municípios onde a adversária Rosinha Matheus (PSB) tem muitos eleitores.
Lula fez questão de deixar à vontade os novos aliados, que só embarcam na candidatura às vésperas do pleito, que será em 6 de outubro. O PMDB, oficialmente, apóia o governista José Serra (PSDB). “Queria que vocês não se sentissem constrangidos de chegar a nove dias das eleições, com a festa terminando. Mesmo que chegassem depois do fim, seriam bem-vindos, porque vamos precisar de vocês não apenas para ganhar, mas para governar.”
No início da tarde, o presidente do PMDB fluminense, Moreira Franco, que não apoiou a adesão a Lula, condenou a manifestação. “Foi um ato muito pouco representativo do partido”, afirmou. “As pessoas que participaram representam pouco o comando partidário, a história, o que é efetivamente o PMDB do Rio.”
Moreira lembrou que seu partido não tem história de convivência ideológica com os petistas no Estado, onde, na maior parte dos municípios, enfrenta o partido de Lula e faz alianças com o PFL e o PSDB.
“Do ponto de vista da representatividade partidária, é tudo muito frágil, e do ponto de vista do resultado, é inútil, pelo menos em relação a Lula”, afirmou Moreira, dizendo que falta pouco tempo para a votação e os participantes do ato não têm condições de transferir votos para o petista. “Quem pode se fortalecer é a Benedita, se souber aproveitar o factóide”, afirmou.
Moreira afirmou que vai encaminhar o caso à procuradoria jurídica do partido, para saber se cabem punições aos dissidentes, que alegam, no manifesto de apoio a Lula, ter direito a fazê-lo, de acordo com o estatuto partidário. O texto estabelece punições que vão da advertência à expulsão, mas o presidente do partido não quis dizer o que poderá acontecer.
“Ninguém pode impedir que uma pessoa, no PMDB ou em qualquer outro partido partido, peça votos ou declare seu voto em quem quer que seja, só que aquela não vai ser mais a casa dele”, afirmou.
O presidente do PMDB do Rio afirmou que o presidente nacional da legenda, Michel Temer, já disse que, em função de outros problemas semelhantes, vai reunir o conselho político da legenda após o primeiro turno, para fechar questão em torno de Serra no segundo. “Se Serra for para o segundo turno”, deixou escapar.
PDT
Lula não deu entrevista, mas, antes de deixar o Rio, afirmou que um apoio do PDT – o partido de Leonel Brizola estaria estremecido com a Frente Trabalhista, que apóia Ciro Gomes – será “muito bem vindo”. “Sempre tivemos uma relação muito cordata com o PDT”, declarou.
Ele ressaltou, porém, que quem cuida dessas discussões é o presidente do PT, deputado federal José Dirceu (SP). Ele não quis comentar a nova disparada da moeda americana no Brasil. “Não compro e não vendo dólar”, disse.