Em discurso de 50 minutos a uma platéia de comunistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na noite de ontem que não conseguiu realizar as mudanças sociais defendidas pela esquerda brasileira por estar num regime presidencialista que adota uma Constituição parlamentarista e não ter maioria no Legislativo. "Estamos longe de construirmos o sonho que acalentamos por décadas", afirmou.
Ao abrir o 11º Congresso do PCdoB no auditório de um resort freqüentado pela classe média alta de Brasília, ele voltou a reclamar das "forças conservadoras" e disse que convocará, sem marcar data, uma reunião com vários partidos para decidir se disputará a reeleição em 2006. "Nem um discurso ou ameaça dos conservadores me farão tomar essa decisão", disse.
Lula ressaltou que levará em conta apenas a própria consciência e os "companheiros" para avaliar seu futuro político. "Não vou ser candidato porque quero, mas porque alguém tem que querer", afirmou. Ele ironizou a imprensa que teria cogitado a possibilidade de disputa da reeleição. "Nunca disse nem à minha mulher, dona Marisa, nem ao companheiro José Alencar se sou ou não candidato."
O presidente avaliou que venceu em 2002 numa correlação de forças. "Não fizemos uma revolução no Brasil, apenas ganhamos uma eleição, extremamente eficaz do ponto de vista do eleitor, mas apertada do ponto de vista das instâncias congressuais", disse. "O Aldo Rebelo e o Renan Calheiros sabem o trabalho que dá construir maioria no Congresso."
Contagiado pelo auditório com cerca de mil pessoas que gritavam frases típicas de assembléias estudantis e passeatas, Lula agradeceu a "lealdade" do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, ao governo e a ele. "Duro é ser companheiro nos momentos adversos", disse o presidente. Lula ainda fez uma crítica aos sindicalistas do serviço público ao lembrar que, na grande greve de 1980 no ABC, os metalúrgicos perderam férias e 13º salário. "Greve na área particular não tem a moleza do setor público."
Lula disse que "o jogo é pesado" com a direita, que, segundo ele, tenta transformar as conquistas do governo em conquistas dela na disputa pelo poder. O presidente defendeu as alianças partidárias para garantir a governabilidade. "Aprendi com João Amazonas (fundador do PCdoB, morto em 2002): em política a gente não realiza o desejo que tem, mas o que é possível", disse. E avaliou: "É muito, mas muito mais fácil ser oposição que governo pois no poder não é dá para dizer: eu penso, eu acho e eu acredito. Ou você faz ou não faz."
Ao comentar a política externa do governo, ele confidenciou que, em 2003, apoiou e defendeu um plebiscito na Venezuela para saber se a população queria que o presidente Hugo Chávez no governo por ter certeza na vitória do colega venezuelano.
