O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encomendou à direção do PT um
levantamento de todos os cargos da administração federal preenchidos por
indicação do partido. Os dados serão finalizados nos próximos dias e
confrontados com o controle, mantido pela Casa Civil, sobre o espaço de todos os
aliados. A iniciativa é parte do esforço do presidente para repactuar a coalizão
de governo e conter o apetite de todos os partidos da base – e do próprio
PT.
O presidente tenta encerrar de vez a crise na condução política do
governo – agravada na última semana por uma ofensiva do PT, tornada pública pelo
ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, sobre a
vaga do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Segundo interlocutores,
ele deve manter Aldo no cargo, por enquanto. Não deverá extinguir a pasta e
transferir suas atribuições à Casa Civil, mas a proximidade das eleições deverá
culminar na nomeação de um petista para o cargo.
Lula vai assumir
pessoalmente negociações com a base aliada e quer ampliar o diálogo com o
Congresso, conforme antecipou a Agência Estado, mas deverá também cobrar mais
dedicação dos partidos que apóiam o governo, aposta um dirigente petista. "O PT
vai ter que dividir espaço sim, mas os aliados precisam mostrar a que vieram",
disse ele. "Essa é uma semana decisiva."
No sábado, antes de participar
de um debate sobre os 25 anos do PT, o ministro da Educação, Tarso Genro,
definiu como "óbvia" a necessidade de o governo reformular sua articulação
política. "O próprio presidente Lula já manifestou que tem consciência de que
devemos passar por uma nova etapa", disse, recusando-se a falar no nome de Aldo
ou de um substituto. "Isso supõe uma recomposição ordenada de nossas relações
com o Parlamento e uma reorganização do centro político do
governo."
Segundo Genro, o governo precisa equilibrar a relação com o
conjunto da base aliada e com a bancada do PT. "Nossa base está um pouco
dispersa e sem uma articulação interna", afirmou. Lula já está agindo, ressaltou
o ministro. De fato. Além do levantamento pedido ao PT, tem várias reuniões
marcadas nesta semana com os líderes dos partidos da base, por exemplo e com a
direção da Câmara dos Deputados, inclusive com líderes da oposição.
"É
evidente que há dificuldades que devem ser enfrentadas e é isso que o governo
está fazendo, tratando das questões sem alarmismos", desconversou o
secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci.
Do lado petista, o
levantamento de cargos é visto como positivo. Seria a demonstração de que o
"gigantismo" do PT no governo – como acusam os demais partidos da base – é
lenda. "O governo Lula indicou apenas 6 mil ocupantes de cargos de confiança",
disse o presidente do PT, José Genoino. Segundo ele, o PT ocupa cerca de um
terço dessas vagas.
