Luiz Inácio da Silva tem as suas razões para justificar a escolha dos nomes com perfil técnico que vão compor a elite da área econômica do presidente eleito. Além da crise generalizada do País, que exige um tratamento a um só tempo profissional e pragmático, o petista escora suas opções em argumentos bastante convincentes. Por exemplo, o relatório do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, que mostrou o Brasil abraçado com um vergonhoso déficit de produtividade de 50% – atrás de países como o México e a Malásia.
Ou o relatório sobre o projeto Fome Zero elaborado por técnicos do Bird (Banco Mundial), BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Divulgado na semana passada, depois de uma longa conversa mantida na primeira semana deste mês entre os técnicos e a equipe de transição do PT, o relatório sentencia: o Fome Zero, o mais importante programa de governo de Lula, só vai decolar se o País tiver crescimento e estabilidade econômica.
Na prática, isto significa que a política emergencial de combate à fome prevista no programa só terá resultados concretos se for acompanhada de medidas macroeconômicas sólidas e, sobretudo, duradouras. Nada que lembre a já superada cantilena do ex-ministro Delfim Netto, para quem é preciso crescer primeiro para dividir depois.
O que se recomenda, neste caso, é que o governo eleito simplesmente evite o assistencialismo e faça a lição de casa – mantenha a inflação, as tarifas públicas e os preços sob controle; estabeleça uma política de câmbio que evite flutuações exageradas da moeda; reduza o déficit público; incentive as exportações para gerar renda; e, ainda, faça a sonhada reforma tributária, que vai propiciar uma mais justa distribuição da renda na sociedade.
Ao que parece, é o que Lula está disposto a fazer. Sem desconsiderar as contingências políticas que marcam a escolha da nova equipe, o presidente eleito escolheu nomes que se afinam com as recomendações dos organismos internacionais. De Henrique Meirelles (novo homem forte do Banco Central), espera-se que ofereça tranquilidade ao mercado financeiro e uma política de câmbio equilibrada. De Antônio Palocci Filho (ministro da Fazenda do futuro governo), que adote disciplina fiscal e uma política econômica avançada, mas sem sobressaltos. De Roberto Rodrigues (novo ministro da Agricultura), que adote uma ação desenvolvimentista, focada num setor estratégico para o Brasil: o agrobussines.
Nada mais weberiano que o critério (racional, pragmático, instrumental) adotado por Lula na escolha desta equipe. O que se quer, afinal, é alavancar o País e reduzir o medo de que o governo eleito perca as rédeas da economia. Ninguém mais capacitado para fazer isso do que estes nomes. Não é à toa que as escolhas receberam tantos elogios dos empresários. A esperança é que esta equipe não perca o rumo e evite tomar decisões, como ocorreu com o governo FHC, baseada em critérios unicamente técnicos. Por que se o pragmatismo é importante para um governo, a sensibilidade política é crucial. E sensibilidade política é exatamente isso o que se espera desta equipe.
Aurélio Munhoz
é editor-adjunto de Política em O Estado (politica@parana-online.com.br) e mestrando em Sociologia Política pela UFPR.