O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está acertando os detalhes para que o
ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deixe o governo. Ontem à noite os dois
tiveram uma conversa franca na Granja do Torto, na presença apenas do presidente
do PT, José Genoino. Dirceu está disposto a se afastar, mas não quer sair
sozinho: prefere deixar o posto em meio a uma reforma ministerial ampla, com a
troca de vários integrantes do primeiro escalão.
A avaliação é de que a
permanência de Dirceu tornou-se insustentável depois que o presidente do PTB,
deputado Roberto Jefferson (RJ), reforçou com novos detalhes a denúncia de
pagamento de mesada a deputados em troca de apoio ao governo no Congresso. O
chefe da Casa Civil se convenceu de que não pode permanecer no cargo, mas está
preocupado em não ficar com a imagem de que tem culpa e ficou acuado. Por isso
prefere que Lula faça uma reforma ministerial, na esperança de diluir o impacto
de sua saída.
Uma mudança ampla no primeiro escalão, avaliam petistas e
aliados, serviria para dar novo oxigênio político ao governo Lula, que enfrenta
sua pior crise. O senador Tião Viana (PT-AC) promete fazer um discurso propondo
que os ministros do PT entreguem seus cargos, deixando o presidente à vontade
para promover a reforma.
"O presidente precisa estar livre para escolher
nomes que estejam acima dos partidos e sem qualquer suspeita", argumenta Tião
Viana. "Justamente os ministros do PT, partido que está sob suspeita de desvio
de conduta, precisam dar exemplo pedindo demissão."
Na opinião de Tião
Viana, a demissão coletiva representaria um gesto político de solidariedade a
Lula e uma contribuição à estabilidade política do País. Além disso, seria uma
atitude para salvar o próprio PT, que ficou desgastado com a divulgação das
denúncias sobre o mensalão.
O nome mais cotado para o lugar de Dirceu é o
do irmão do senador: o governador do Acre, Jorge Viana, tido pelos petistas como
um político habilidoso e com trânsito fácil nos meios de comunicação. Não é a
primeira vez que Jorge Viana aparece nas discussões sobre reforma ministerial,
só que para ocupar o comando da Casa Civil ele teria de renunciar ao governo
estadual.
A estratégia em discussão para tirar o governo da defensiva
prevê também um movimento paralelo no PT. O Planalto insiste para que o partido
afaste de suas funções o tesoureiro Delúbio Soares, apontado por Jefferson como
o organizador do chamado mensalão. Com isso, a expectativa é dar uma resposta
forte à crescente onda de denúncias de corrupção na administração
federal.
A idéia de uma reforma ministerial enfrenta a resistência de
alguns integrantes do governo. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo,
tem defendido que o Planalto pode se enfraquecer ainda mais com a manobra. Para
Aldo, a melhor alternativa no momento é estreitar a parceria com o PMDB. O
ministro da Coordenação Política participou hoje de um almoço com dirigentes do
partido na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Esteve
também com Dirceu, a quem pediu que resistisse à pressão para deixar o
cargo.