O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou hoje para o primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, para reforçar a preocupação brasileira com a eclosão de uma guerra contra o Iraque. Segundo o chanceler brasileiro, Celso Amorim, o presidente está preocupado, sobretudo com as dificuldades que o conflito pode trazer ao cenário econômico mundial e suas conseqüências para o equilíbrio das contas públicas nacionais.
“O presidente salientou que essas preocupações são de ordem política e humanitária, mas são também, no caso do Brasil, de ordem econômica, porque, evidentemente, uma deterioração do clima econômico mundial – que já ocorre – tem impacto sobre o Brasil e dificulta o esforço de recuperação que está sendo feito internamente, com participação e sacrifício de todos”, afirmou.
O telefonema ao premiê britânico faz parte da iniciativa do presidente Lula de reforçar a posição brasileira contrária à guerra aos líderes diretamente envolvidos na discussão. Na semana passada, Lula conversou com o presidente francês, Jacques Chirac, e na segunda-feira (3) recebeu um telefonema do premiê alemão, Gerard Schröeder. O telefonema de Lula a Blair durou cerca de 30 minutos.
Apesar de a Grã-Bretanha ser hoje a maior aliada dos Estados Unidos na defesa de uma investida militar contra o Iraque, o chanceler brasileiro garantiu que, no telefonema, Blair e Lula manifestaram concordância na necessidade de encontrar uma solução pacífica para a polêmica em torno do ditador iraquiano Saddam Hussein. “O primeiro-ministro manifestou-se muito disposto a continuar a conversa, inclusive, no que diz respeito à possibilidade de haver uma discussão em maior profundidade sobre como encontrar uma saída política para essa crise”, afirmou Amorim.
Questionado sobre o peso da posição política brasileira num conflito que é decidido pelos países integrantes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas – do qual o Brasil não faz parte – Amorim lembrou que o presidente Lula é uma liderança natural no continente, e o Brasil um país símbolo do mundo em desenvolvimento. “É importante que os líderes dos países que têm mais influência no momento, sobretudo os que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU conheçam as preocupações de outros países. Eu acho que o Brasil é muito ouvido, não só pela liderança que o presidente Lula tem – natural, moral e política – mas também porque o Brasil é um país que simboliza muito os países em desenvolvimento” resumiu.
A iniciativa de conversar com outros chefes de Estado e de Governo sobre a guerra não significa, no entanto, que o presidente Lula esteja articulando a formação de um bloco de países em desenvolvimento contrários à guerra. Segundo o chanceler brasileiro, “não existe preocupação em liderar bloco nenhum”, mas o governo reconhece a importância de trocar informações sobre o tema. “As pessoas querem saber o que pensa o Brasil, porque somos um país representativo no mundo em desenvolvimento. E nós também temos interesse em fazer com que a nossa posição seja ouvida”, explicou.
Hoje, após reunião em Paris, os chanceleres da França, Alemanha e Rússia divulgaram um comunicado conjunto no qual dizem que seus países não aprovarão nenhuma resolução que autorize o uso de força contra o Iraque. Em discurso no Parlamento britânico hoje de manhã, Tony Blair lembrou que uma ofensiva militar contra o Iraque ainda pode ser evitada, caso Saddam Hussein concorde em realizar uma operação real de desarmamento em seu país, ou abandone o governo.
Lula manifesta a premiê britânico preocupação com a guerra
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