O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, continua fazendo seus comícios e buscando novos apoios para o segundo turno da eleição. Mas, em vez de candidato apenas, tem sido tratado como presidente eleito por muitos políticos e por parte do mercado. Até mesmo o presidente Fernando Henrique Cardoso foi pego em ato falho em que tratou Lula como se fosse presidente eleito.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), por exemplo receberá nos próximos dias o plano do PT para o setor financeiro, principalmente a proposta do partido para as mudanças no artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro. A Bolsa de Valores também receberá os planos de um eventual governo petista para melhorar o seu desempenho.
Lula tem dito que a bolsa precisa crescer porque atualmente apenas cerca de 400 empresas negociam suas ações ali.
Ao receber hoje o apoio de novos políticos, entre eles o presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e vice-governador eleito de Minas Gerais, Clésio Andrade, do PFL, Lula foi saudado como presidente. “Presidente Lula, para mim, declarar esse apoio, tornou o dia de hoje muito especial”, afirmou Clésio que, com os senadores eleitos Antonio Carlos Magalhães (BA) e Roseana Sarney (MA), lidera a dissidência pró-Lula no PFL.
Na mesma cerimônia de adesões, o senador Amir Lando (PMDB-RO) também chamou Lula de presidente. “Diante da pessoa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quero dizer que votei em Lula no primeiro turno, com declaração de voto. O Brasil deve ser dos brasileiros e Lula o presidente do Brasil”, afirmou Lando, que foi o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que resultou na abertura do processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Lando disputou o governo de Rondônia, mas não conseguiu passar para o segundo turno.
O coordenador de campanha do PT, Antônio Palocci, informou hoje que o partido está tratando com a Febraban as mudanças na proposta de emenda constitucional que regulamenta o artigo 192 da Constituição. Por que diretamente entre o PT e a Febraban e não entre o Congresso e a entidade que representa os bancos? Fontes da Febraban informaram hoje que esse contato ocorre por iniciativa do PT.
De acordo com essas fontes, em maio, a Febraban programou uma série de encontros com os quatro candidatos à Presidência.
O primeiro que aceitou o convite foi Ciro Gomes, do PPS. Anthony Garotinho, do PSB, e José Serra, do PSDB, alegaram que não tinham vaga nas suas agendas.
Convidado, Lula prontamente aceitou. Fez uma explanação a respeito do que pensa sobre o sistema financeiro e foi aplaudido de pé. Ficou de conversar posteriormente com os banqueiros a respeito de temas como crédito para habitação, marcos regulatórios, oferta de crédito e taxa de juros e outras questões financeiras. É essa conversa que deverá ocorrer agora, segundo a Febraban.
Logo depois do primeiro turno, durante entrevista coletiva, Fernando Henrique tanto tratou Lula como presidente eleito, que um repórter perguntou se ele considerava que seu candidato, o tucano José Serra, havia sido derrotado.
Fernando Henrique reagiu com humor. No dia 12 de setembro, ao receber a medalha JK, em Diamantina (MG), foi a vez de o presidente da Câmara e governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), chamar Lula de presidente. Depois de perceber o lapso, Aécio acrescentou: “Quero dizer, presidente do PT…”.
