Pergunte aos empresários rurais que aguardam na fila do Porto de Paranaguá se eles se consideram “chorões”, como definiu o presidente Lula em folgada e bem paga vilegiatura pelas Índias. Aquela fila é uma vergonha, a prova cabal da imprevidência do Estado mastodôntico contra o arrojo empreendedor do brasileiro, sempre sujeito aos humores do governo e, ainda por cima, estrangulado pela burocracia e pelo excesso de impostos que paga sem poder reagir. Lula escorregou feio, outra vez falando de improviso. E sua tentativa de remendo no dia seguinte foi, como ocorre aos poetas, pior a emenda que o soneto.

Pergunte aos empresários do transporte (ônibus, caminhões e assemelhados) se eles se consideram chorões pelas péssimas estradas sobre as quais são obrigados a circular todos os dias, transportando nossas riquezas e necessidades. Quando quebra um eixo, estoura uma roda, ou a jamanta desgovernada atraca num barranco, ninguém chora contra o presidente da República, nem aciona, como devia, o Dnit – um órgão que mudou de nome, mas continua na mesma santa e doce indolência, apesar dos IPVAs, pedágios e outros assaltos ao bolso do indefeso contribuinte.

Pergunte a qualquer empresário quanta ginástica ele é obrigado a fazer para manter suas obrigações com os fornecedores, clientes e funcionários, enquanto é atucanado sem piedade pelo torniquete das obrigações do Fisco, sempre atento a tirar mais sem dar nada em troca, nem mesmo um sistema de saúde pública que libere os empreendedores desses planos médicos extras para manter a boa política com seus colaboradores. E isso vale para escola, segurança, moradia, e tudo o mais.

Pergunte – e perguntar não ofende – a todos. Indistintamente. Do grande empresário ao pequeno comerciante da esquina, mais escravo da roda-viva em que se meteu do que controlador de seus negócios, com freqüência pendurados nos humores de algum agiota do bairro. E receberá sempre uma mesma resposta: o governo, que suga já uns 40% do PIB em impostos, taxas e contribuições, é quem vive chorando. E, na hora de cumprir com suas obrigações, tem sempre uma desculpa: a falta de dinheiro.

O presidente Lula não precisava ter escorregado tanto. Imagina-se que a imponência (“já viram que coisa mais bonita?”) do Taj Mahal lhe tenha obnubilado o espírito. Mas, mesmo assim, ele devia ter consultado algum assessor antes de cuspir no prato que lhe transporta a seiva que alimenta todo o governo, que insiste em remar contra a maré, isto é, aumentar tributos. Agora mesmo, o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, dá seu testemunho, baseado numa experiência em curso: nem sempre o aumento da arrecadação vem pela via do aumento de impostos. No início de dezembro, a alíquota do ICMS para o álcool combustível caiu de 25% para 12%. As vendas da BR Distribuidora subiram cinco vezes e a arrecadação do imposto subiu 7%.

Não, senhor presidente. Não somos chorões. Nem empresários (mesmo os que se penduram na ciranda financeira, porque ali lucram mais que com o trabalho árduo, sem o incentivo dado à especulação), nem empregados, que suportam há anos uma queda vertiginosa e sem precedentes do poder de compra dos salários, enquanto lá, no Planalto, acha-se sempre um jeito para criar cargos, recuperar perdas, recompor o chamado “poder de compra” dos contracheques nivelados pelo teto e distribuídos em profusão à saúde da… “governabilidade”.

É melhor que Vossa Excelência retire, apague dos registros, esta acusação infeliz atirada contra quem o seu governo exatamente nesta hora busca para realizar parcerias para a realização de tarefas para as quais o Estado já se declarou incompetente ou sem recursos suficientes para executá-las. Melhor que ninguém, Vossa Excelência sabe que o sucesso de seu governo (e de suas metas de governo) dependerá visceralmente da saúde desses “chorões” da planície que, apesar de tudo, choram menos que os eternos “chorões” do Planalto.

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