Lula faz balanço do governo e prega otimismoa

Num ambiente receptivo e sem se expor às manifestações populares contra a corrupção registradas hoje (20) na sua visita ao Recife, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva referiu-se uma única vez, em público, à crise do PT e do governo, de forma indireta e buscando se desvincular de qualquer denúncia.

"Ninguém sabe das dificuldades que estamos passando, ninguém sabe dos momentos que estamos passando, mas estamos dispostos a enfrentar o que for necessário para provar que este País não vai jogar fora a oportunidade que tem, doa a quem doer, machuque a quem machucar, sensibilize a quem sensibilizar".

O presidente fez o desabafo ao inaugurar o Centro Regional de Ciências Nucleares (CRCN), perante uma platéia acadêmica. Ele se referia à luta de sua vida inteira "para provar que governar independe da quantidade de escolaridade e formação acadêmica, dependendo muito mais do caráter e da inteligência das pessoas". Fez, então, um balanço dos 30 meses de governo, destacando que busca governar para 180 milhões de brasileiros, fazendo diferente de outros governos que governavam para 35 milhões que estão no mercado de consumo.

"O Estado brasileiro está deixando de ser transferidor de dinheiro para ser, na verdade, o Estado que possa garantir a execução de políticas que atendam à totalidade da população", disse ele ao citar programas como bolsa-família, saúde bucal, estatuto do idoso, crédito para agricultura familiar, extensão de universidades particulares e federais para o interior do País inclusão social.

Ele observou que essa mudança certamente incomoda algumas pessoas que estranham, por exemplo, que o governo federal esteja gastando R$ 7 bilhões com os pobres, que podem entrar no Banco do Brasil para fazer empréstimos para sua lavoura. "Por que esse dinheiro não está no banco para que se possa fazer empréstimo a fundo perdido, para não se pagar nunca mais?" indagou ele, fazendo as vezes de um descontente com sua política. "O dinheiro está sendo levado para atender à parte pobre e vamos fazer muito mais", prometeu, sob aplausos, ao lembrar que sua tarefa é mais difícil – atender à toda a população – mas muito mais prazerosa. Ele frisou que se esse caminho não for trilhado, daqui a 30 anos o Brasil ainda estará sendo visto como um país emergente.

O presidente disse estar feliz e otimista com os "dados extremamente significativos" resultantes dos 30 meses de seu governo e pregou que "o País não tem o direito de apostar no atraso". Ele lembrou o investimento em educação, ciência, tecnologia e biossegurança.

Frisou que nos quatro anos de governo mais 760 mil jovens estarão incluídos nas universidades brasileiras (mais do que nos últimos 20 anos); frisou que em 30 meses foram criados 3 175 milhões de novos empregos com carteira assinada e que as exportações bateram recorde, alcançando US$ 109 bilhões.

Aos 1,2 mil jovens com idade entre 18 e 24 anos que participaram da aula inaugural do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Pró-jovem), o presidente Lula reiterou a importância da educação:"Fica mais barato dar R$ 100 para cada um deles estudar do que cuidar de vocês na cadeia", afirmou ele. "É mais barato construir uma sala de aula do que uma cela".

O presidente contou sua história de menino miserável e pau-de-arara do semi-árido pernambucano, que passou muita dificuldade na vida com a família e hoje é presidente da República porque quando jovem não desperdiçou a chance de um curso no Senai, quando aprendeu um ofício. Ele estimulou os jovens a pegar esta oportunidade e enfrentar os desafios. O programa é voltado para quem fez até a quarta série. Em 12 meses pretende promover a conclusão do ensino fundamental, além de profissionalizar e oferecer oportunidade de trabalho com comunidade. Cada um ganha uma bolsa de R$ 100,00 mensais. O programa deverá abranger as 26 capitais e o Distrito Federal até o final do ano.

Em conversa com o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), no café da manhã, no Mar Hotel, onde se hospedou, o presidente confidenciou sua preocupação com uma eventual paralisia do Congresso em meio às CPIs. De acordo com o governador, ele quer que o Congresso investigue, puna se for necessário, mas de forma ágil para que a economia não seja atingida.

O presidente chegou ao Recife às 23 horas de ontem (19). Hoje visitou o deputado Ricardo Fiúza (PP) na sua residência – o político se trata de um câncer no pâncreas -, e o presidente nacional licenciado do PSB Miguel Arraes (PSB), no Hospital Esperança. Ele esteva acompanhado dos ministros Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Tarso Genro (Educação), Luiz Marinho (Trabalho) e Luiz Dulci (ministro-chefe da secretaria geral da presidência), além do presidente do Infraero, Carlos Wilson.

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