O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou hoje um recado aos partidos políticos, durante a passagem com seus ministros pelo Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais. Ao lado do governador do Estado, o tucano Aécio Neves, Lula afirmou que, para governar, é preciso colocar a “vontade da população” na frente das “divergências”.
“Normalmente, quem ganha as eleições não conversa com quem perde e um governo de um partido não quer conversar com o de outro”, disse o presidente, logo após desembarcar na cidade de Araçuaí, de onde, em seguida, partiu para Itinga. A comitiva começou na sexta-feira, por Teresina, a viagem para conhecer locais muito pobres, passou por Recife e hoje esteve no Vale do Jequitinhonha, de onde retorna.
A cerca de 1.500 pessoas, que o aguardavam no Aeroporto de Araçuaí, Lula disse que, no caso mineiro, ele o governador do Estado têm “um trato”, apesar de Aécio ser do PSDB, partido da oposição. “O povo de Minas, as mulheres, os homens e as crianças são mais importantes do que qualquer divergência que eu possa ter com Aécio ou que ele possa ter comigo”, afirmou o presidente. “Portanto eu não tenho dúvida nenhuma que receberei do governador um tratamento exemplar de lealdade e companheirismo e darei a ele um tratamento cordial, também de lealdade.”
Lula se dirigiu diversas vezes ao governador tucano, tanto no discurso de Araçuaí quanto no outro que fez em Itinga. “Quero que você (Aécio) saiba que terá da minha parte o maior respeito e que vamos trabalhar juntos”, disse o presidente, que fechou um acordo com o Estado para um projeto de desenvolvimento conjunto da região do Vale do Jequitinhonha, uma das mais pobres do País.
O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, reforçou o discurso de Lula, fazendo um apelo ao Congresso e enfatizando o papel da viagens do presidente com os ministros. “Essa viagem serve para mostrar a necessidade de o Congresso aprovar medidas para retomarmos o desenvolvimento”, disse o ministro. “É por isso que o presidente se referiu aos partidos.”
Orgulho
Em seus dois discursos, Lula destacou a pobreza da região, mas fez questão de ressaltar a riqueza cultural do Vale do Jequitinhonha. O tom agradou aos presentes, já que a palavra “miséria” é vista com ressalvas por uma boa parte da população da região. Najane Araújo, estudantes de 16 anos, por exemplo, disse não gostar da maneira como a imprensa retrata o Vale do Jequitinhonha. “Me incomodo com essa visão de que tudo aqui é pobreza, de que todo mundo aqui passa fome”, afirmou. “Sei que há muita gente passando necessidade por aqui, mas essa região também tem muito o que mostrar.”
No Aeroporto Araçuaí, um cartaz traduzia a vontade dos moradores locais. Dizia: “Senhores ministros e demais presentes: na história do nosso País, o nosso Vale se destaca pela ‘miséria’ causada pela desigualdade social, mas queremos dizer-lhes que, com nossa simplicidade, somos um povo de muita raça, fé e coragem; precisamos de ajuda e o que queremos é justiça na área social, da educação, da saúde, enfim, tudo aquilo que um povo merece para viver com dignidade”.
