Lula escora o governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expôs-se à mídia nos últimos dias para dizer ao povo que tudo vai muito bem. As pesquisas sobre seu conceito perante a opinião pública talvez não exigissem, por enquanto, tanta presença em revistas, jornais e na televisão, pois se arriscou a ser acusado de vedetismo. As pesquisas, apesar de acenarem com uma queda leve em seu prestígio, ainda o mantém num alto patamar, como líder nacional inconteste e homem público admirado, em especial por ter chegado à Presidência da República com a promessa de solucionar, de vez, graves e antigos problemas nacionais.

Tal exposição à mídia tem razão de ser. Lula sabe que é ele quem escora o seu governo. A equipe que formou era, até há poucos meses, desconhecida. É a sua equipe e não a equipe de um partido ou de uma coligação. Aliás, ele próprio destacou o fato, quando disse que o governo é formado de homens de sua pessoal e direta escolha. Não foram indicados nem pelo PT nem por agremiações ou forças aliadas.

Foi mais adiante, afirmando sentir-se confortável e até feliz no governo, pois sempre almejou chegar à Presidência. Era uma ambição pessoal pela qual lutou muito e logrou sair-se vitorioso. Não foi o PT que chegou ao Planalto. Foi Lula.

Nas entrevistas, o presidente conseguiu continuar passando seu estilo loquaz, simpático, inspirando confiança e intimidade. Mesmo quando colocam questionamentos fundados sobre os passos ainda não encetados pelo seu governo, quando deveriam estar adiantados, ele consegue, com apelos de paciência e promessas de perseverança, acabar convencendo ou pelo menos amainando a ira dos que já se opõem ao seu governo. No passado, eram comuns os períodos em que a “entourage” do presidente precisava movimentar-se para defendê-lo, quando seu prestígio entrava em declínio. Também acontecia um processo de imantação, através do qual a opinião pública ia atribuindo ao governo federal, e pessoalmente ao presidente, todos os problemas que a afligiam, fossem da responsabilidade de municípios, estados ou mesmo deste ou daquele ministério ou outro órgão público federal. Tudo era culpa do presidente.

Hoje, acontece o contrário. Lula é previamente absolvido e ministros, como o da Previdência e, em especial, o da Fazenda, Antônio Palocci, são os alvos das críticas, mesmo dentro do próprio PT. Dias atrás, até se começou a falar em fritura de Palocci e reforma do ministério ainda neste ano. Lula fez questão de escorar sua equipe e botar uma couraça no ministro Palocci, dizendo que quem apostar contra ele vai perder. E através de demonstrações e declarações, fez ver que se trata do ministro mais próximo dele e o mais prestigiado.

Lula assume a política econômica de Palocci como sendo sua e a considera correta. E, apesar de ser o calcanhar-de-aquiles do governo, não teme que possa contaminá-lo com o desprestígio que vem sendo sofrido por sua equipe, em razão do desemprego, dos juros altos e do atraso nos planos desenvolvimentistas.

Há de se reconhecer, depois das suas últimas entrevistas, que Lula é um grande comunicador e um homem de rara inteligência, tendo absorvido com muita rapidez a problemática do País e as dificuldades para solucioná-la. E que ainda tem muito fôlego para manter-se na crista da onda e ainda sustentar sua equipe. Resta saber por quanto tempo.

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