Ciente do momento conturbado que seu companheiro Hugo Chavez, presidente da Venezuela, enfrenta nas áreas diplomática e interna, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou hoje o seu discurso no encontro empresarial Brasil-Venezuela, para dar um forte respaldo político a seu colega. Lula parabenizou Chávez pela "sabedoria" com que teria solucionado um recente incidente diplomático com a Colômbia e chegou a declarar-se "orgulhoso" com o resultado do referendo popular, que autorizou Chavez o concluir a segunda metade de seu mandado. Para Lula, o referendo foi o momento "mais importante da Democracia" do país.
O presidente brasileiro, entretanto, aproveitou para deixar um discreto conselho a Chavez, que historicamente mostrou pouco afável a ouvir e debater com a oposição. "Só existem divergências onde existe democracia. O povo venezuelano deu demonstração de que é dono de seu nariz, de sua consciência e de seus atos", afirmou, em tom professoral.
O aval espontâneo e imprevisto de Lula ao modelo "democrático" adotado por Chavez na Venezuela, entretanto, deixou margens para indagações na platéia. Primeiro, porque os empresários presentes sabem que o atual brasileiro se auto-proclamou líder da América do Sul. Segundo, porque justamente hoje, em Caracas, Chavez tentara acabar com o conflito diplomático instaurado depois da prisão, em território venezuelano, de um suposto terrorista das Forcas Armadas Revolucionarias da Colômbia (Farcs) por caçadores de recompensa colombianos. Terceiro, porque a Venezuela vive uma nova rusga com os Estados Unidos por conta da compra de armamentos russos.
A declaração de Lula também causou impressão pelo fato de Chavez ter conseguido a aprovação de dois projetos polêmicos, que permitiram amplas restrições à liberdade de imprensa e de expressão e o apoio da maioria dos ministros do Tribunal Superior de Justiça (TSJ). Um terceiro projeto, ainda em tramitação, muda o Código Penal do país de forma a limitar ainda mais a liberdade de expressão dos cidadãos. Essas e outras iniciativas levam personalidades venezuelanas, como o historiador Manuel Caballero, a associar o regime de Chavez ao fascismo.