O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (30), no último discurso público do ano, que o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), não precisa de cargo para ter importância política. Na solenidade de sanção da lei da Parceria Público-Privada (PPS), no Palácio do Planalto, Lula evitou comentar possíveis mudanças no ministério e elogiou a "autonomia" e a "lisura" de João Paulo que em fevereiro deixa o comando da Câmara. "João Paulo, você é muito jovem, terá uma carreira política excepcional e vai perceber que quando a gente conquista o que você conquistou não precisa mais de cargo para ter importância", afirmou Lula. "Você vai virar uma figura importante mesmo sem ser deputado ou presidente da Câmara."
Depois da solenidade, João Paulo disse, em entrevista, que "não terá problema" se não ganhar cargo no governo. Ao ser questionado se assumirá algum ministério a partir de fevereiro, ele desconversou. "Estou bem na Câmara. O presidente pode continuar contando com o meu trabalho, o trabalho de um deputado simples", disse.
No discurso, Lula destacou que tanto a Câmara, presidida por João Paulo, quanto o Senado, comandado por José Sarney (PMDB-SP), aprovaram projetos paralisados havia dez ou 14 anos e que "em nenhum momento" faltaram com os interesses da nação e os objetivos traçados pelo governo. "Se nós fizermos uma retrospectiva do que foi votado nesses últimos dois anos, vamos constatar que votamos coisas, do ponto de vista teórico, impossíveis de serem votadas."
O presidente afirmou que João Paulo poderia receber o título de "revelação política", pelo comportamento nos "momentos mais difíceis" no comando da Câmara. "Você nunca deixou de agir com a autonomia necessária, mas também nunca deixou de levar em conta os compromissos históricos da tua vida política com o governo e, sobretudo, com o teu amigo metalúrgico." Lula disse que João Paulo conseguiu acabar com a "guerra" entre o Executivo e o Legislativo que sempre foi notícia nos jornais. "João Paulo, você poderá encostar a cabeça no travesseiro e dormir o sono dos justos, dormir o sono de alguém que está com a consciência tranqüila do dever cumprido", disse. "Poucas vezes a Câmara teve um presidente que a tratava com carinho, carinho de verdade, não o carinho falso da política, mas o aconchego, o abraço, o encostar de rosto e o aperto de mão", disse.
