Maceió, 15 (AE) – Vaias, protestos e gritos de "traidor" partidos de um grupo de cerca de 30 estudantes, marcaram a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje, em Maceió, e tumultuaram seu discurso em comemoração dos 115 anos da proclamação da República. Os estudantes jogaram ovos e tomates no palanque – mas nenhuma autoridade foi atingida, pois a distância era grande. Além do mal-estar, houve faixas de protestos e palavras de ordem contra a reforma universitária. "Como eu gritei a vida inteira em todos os palcos do mundo, nunca vou achar ruim que as pessoas gritem", disse Lula, ao responder às manifestações. "Mas, muitas vezes, as pessoas gritam sem saber por que estão gritando", completou.
Debaixo de um sol escaldante, de 35 graus, o presidente passou em revista as tropas, depositou flores no busto do marechal Deodoro da Fonseca e lançou a pedra fundamental para a construção de um memorial à República no local, cujo projeto está orçado em R$ 1,9 milhão e que Lula prometeu inaugurar no próximo ano.
Oligarquias – Diante de mais gritos de traidor, o presidente fez uma pausa no discurso e, virando para os estudantes, prosseguiu: "Se estes meninos que estão gritando aí fossem representantes da oligarquia de Alagoas, eles poderiam me chamar de qualquer coisa. Se fossem trabalhadores, iriam reconhecer que nunca na história do Brasil os trabalhadores chegaram a tão alto patamar de participação política e nunca participaram tanto das decisões".
Lula ressaltou também o fato de o País ter avançado na democracia. "Avançou tanto que até os nossos companheiros conquistaram o direito de vir protestar", enfatizou, interrompendo mais uma vez suas palavras por conta dos tumultos. Para o presidente, as manifestações têm significado "extraordinário" e demonstram que "a democracia do Brasil veio para ficar".
Ao lado de Lula, o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, não escondia o constrangimento e não parava de olhar, incomodado para os estudantes, do outro lado do palanque. Isolados por 25 policiais, que não impediram os protestos, os estudantes da Universidade Federal de Alagoas não deram trégua. Agitavam bandeiras e faixas com dizeres "Não à reforma privatista" e "Parem a reforma ou paramos o Brasil".
Os estudantes conseguiram também abafar a manifestação que trabalhadores rurais ensaiaram para a cerimônia. Eles queriam entregar uma carta ao presidente pedindo reforma agrária mas não conseguiram. "Não condeno o presidente Lula, pois ele começou seu governo há pouco. Mas queremos mais atenção para a reforma agrária, que está devagar", disse o coordenador do MTL, Manoel Sebastião Oliveira, liderando um grupo de 60 trabalhadores que saíram de Novo Lino, no interior de Alagoas.
A visita de Lula foi marcada também por pressões políticas: o governador Ronaldo Lessa não perdeu oportunidade de ter com ele uma conversa reservada para entregar um dossiê sobre a situação do Estado e pedir a renegociação da dívida.
Dívidas – Ao lado de outros governadores, Lessa tem endossado o coro dos descontentes, já que o Estado estaria pagando mais à União pelo serviço da dívida do que recebendo com os repasses constitucionais.
Desde que tomou posse foi também a primeira cerimônia militar que o vice-presidente José Alencar participou na condição de ministro da Defesa. Estava presente também o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque. Enquanto aguardavam a chega do presidente ao palanque, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, teve uma conversa amistosa com o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), que foi convidado pelo presidente a viajar para Brasília no avião presidencial. O ministro José Dirceu é aliado do senador José Sarney na briga pela presidência do Senado e não tem simpatia pela candidatura do líder do PMDB ao comando da Casa.
O diálogo entre Renan e o ministro, aparentemente descontraída, só foi interrompido com a chegada do ministro Aldo Rebelo ( Coordenação Política) e do general Albuquerque que se juntou ao grupo.