Em meio à mais grave crise que atinge seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou vaias, mas também recebeu aplausos durante o desfile de 7 de Setembro realizado hoje (7) na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. As manifestações de apoio vieram, principalmente, das arquibancadas instaladas nas proximidades da tribuna de honra, reservadas a convidados, que não somente aplaudiram como entoaram jingles de campanha de Lula. Entre os que protestaram contra o presidente, destacaram-se as organizações de mulheres de militares, que acompanharam a solenidade de uma arquibancada algumas dezenas de metros distante do presidente.

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Entre gritos de "fora" e "traíra", as esposas dos militares vaiaram o presidente assim que ele chegou à tribuna. A presidente da União Nacional da Esposas de Militares das Forças Armadas Brasileira (Unemfa), Ivone Luzardo, calculou que 3 mil familiares de militares compareceram ao desfile, vindos do Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Paraná. O protesto, segundo ela, deve-se às denúncias de corrupção no governo e ao que ela classifica como "sucateamento" das Forças Armadas. As esposas dos militares pedem reajuste salarial de 23% para a categoria. Ivone contou que as manifestantes chegaram à Esplanada dos Ministérios às 4h de hoje (cerca de cinco horas antes do início oficial das comemorações), para conseguir ocupar locais próximos do presidente. "Mas os lugares mais próximos estavam reservados às pessoas que vieram aplaudir o presidente", reclamou.

Ao longo da Esplanada dos Ministérios havia também pequenos grupos se manifestando. Alguns contra, outros favoráveis ao governo. Com uma faixa que dizia "Fora todos. Abaixo o acordão", cinco estudantes ligados ao PSTU se manifestavam contra a corrupção e pediam a punição dos envolvidos. "Não pode acabar em pizza", resumiu o estudante de Ciências Políticas Mauro Faria, 19 anos. Em um gramado em frente à tribuna de honra, alguns militantes petistas exibiam bandeiras e vestiam camisas e bonés do partido. Um deles era o estudante Pablo Valente, 20 anos.

Ele afirmou que estava na Esplanada "em defesa de Lula, do PT, e pela punição dos envolvidos (no suposto esquema de corrupção". O militante disse ainda acreditar que Lula não está envolvido com as irregularidades. A poucos metros de Pablo, dois homens seguravam bandeiras onde se lia a palavra "impeachment". O arquiteto Antonio Estela, que fez ele próprio as bandeiras, disse que "o País está de luto" e só com a saída de Lula do cargo é que as investigações poderão ser feitas devidamente.

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Do outro lado da Esplanada dos Ministérios, em frente à Catedral de Brasília, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) organizou um ato paralelo para pedir mais empenho do governo na reforma agrária e mudanças na política econômica. O protesto reuniu cerca de 450 manifestantes, de acordo com os cálculos dos organizadores. João Paulo Rodrigues, da Coordenação Nacional do MST, explicou que a mobilização ocorreu principalmente por conta do Grito dos Excluídos, movimento de caráter nacional feito todo ano, nessa época, pelo MST. A pauta de reivindicações em Brasília, incluiu também a retirada das tropas brasileiras do Haiti.

"Não podemos comemorar a Independência e fazer, ao mesmo tempo, uma intervenção em outro país", disse Rodrigues. Depois do encerramento da solenidade oficial, os sem-terra protestaram na Esplanada dos Ministérios e percorreram o mesmo trajeto onde, minutos antes, havia transcorrido o desfile militar. Sobre a crise política, o dirigente do MST afirmou não acreditar no envolvimento pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas denúncias de pagamentos a parlamentares e uso de Caixa 2 pelo PT. Rodrigues também criticou a prisão, ontem, do líder do MST José Rainha, em São Paulo. "A prisão de Rainha foi arbitrária; queremos sua libertação", disse.

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