Lula reuniu-se com a cúpula do PT. Do encontro resultou uma resolução do diretório nacional que expressa apoio à formação de um governo de coalizão no segundo mandato do presidente. O documento procura dar a impressão de que não existem problemas entre o presidente e o partido ao qual é filiado e do qual foi fundador. Mas as relações entre Lula e o PT continuam difíceis. Lula não esconde a necessidade de formar uma base de apoio político e parlamentar que dê espaços para outras agremiações, em especial o PMDB, que já ocupa três ministérios e vários outros cargos, e no próximo governo poderá ocupar cinco pastas e espaços outros ainda mais numerosos e poderosos. Mas não é só o PMDB a embarcar no governo, e o faz com tanto peso que a nave até aderna, ameaçando jogar n?água líderes petistas que hoje ocupam ministérios e outras funções relevantes.

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?Não estou preocupado, neste instante, em montar governo. Fiz questão de dizer logo para a imprensa não ficar falando. Porque todo dia tem um ministério nos jornais?, disse Lula. E acrescentou: ?Até essa discussão se vai ter mais PT ou menos PT, se vai ter mais PMDB ou menos PMDB. Esse é um problema que a gente vai discutir no momento em que precisar discutir?. Jogou a bola para a frente, mas sem apontar um caminho que evite embates e uma ferrenha luta por espaços.

Em sua resolução, o diretório do PT diz que deverá haver um governo de coalizão ?programático? e não ?um condomínio baseado na distribuição fisiológica de cargos?. Ideal, mas difícil de concretizar-se, pois na política brasileira os programas e ideologias ficam num segundo plano, ou mesmo em plano nenhum, e o poder se forma na base de partilhas formadas por interesses que estão longe de programáticos. Os petistas que comandam a agremiação são os que restaram depois das defecções e, até certo ponto, representam a reivindicação de retorno do partido às suas origens programáticas, ideológicas e éticas.

Por isso, o atual diretório nacional firmou no documento extraído desse encontro que vai ser possível aperfeiçoar ?os mecanismos de diálogo e interação entre a direção e o governo, assim como a interlocução constante de nossas bancadas na Câmara e no Senado com o presidente e seus ministros?. E sonham com um ?processo de discussões? com o PSB e o PCdoB para ?uma ação mais coordenada das forças de esquerda que apóiam o governo?. Um sonho longe de poder tornar-se realidade, pois conotações ideológicas socialistas, de esquerda, já perderam espaço no atual mandato e terão menos força no segundo. A coalizão necessária e já admitida no documento do PT, por abrigar políticos das mais variadas tendências, estará longe de ter identidade ideológica.

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Lula aproveitou o encontro para puxar as orelhas dos petistas que atrapalharam o seu primeiro governo, destruindo a imagem ética do partido, e fez um apelo para que haja um retorno às origens. Que ajudem e não atrapalhem. Divergências palpáveis já surgiram: enquanto Lula não esconde sua preferência pela candidatura à presidência da Câmara de seu atual ocupante, o comunista Aldo Rebelo, o PT o desafia e lança a candidatura do líder do partido, Arlindo Chinaglia. E o PMDB exige para um de seus membros o importante cargo. De acordo com a tradição da Casa, tendo a maior bancada, detém esse direito. A paz está no papel, mas distante no campo de batalha.