Pelo que os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush disseram nesta sexta-feira (9) em São Paulo, as negociações da Rodada Doha para liberalizar o comércio mundial em que os países em desenvolvimento buscam reduzir subsídios de europeus e norte-americanos a produtos agrícolas ainda devem durar um bom tempo.
Na declaração conjunta e na entrevista coletiva que concederam, os dois evitaram falar em prazos e previram uma longa e cautelosa negociação.
O primeiro a mencionar o assunto foi Bush, que disse não gostar de prazos. Há pontos em que concordamos, outros não. Temos que ser cuidadosos para depois não dizerem ah, eles falharam.
Em seguida, Lula afirmou ser necessário encontrar o ponto G para o acordo e comparou a negociação a um jogo de baralho, em que cada jogador tem uma carta guardada, mas nenhum quer dar a primeira cartada para não se expor. Alguns podem até não ter carta porque não querem jogar, mas eu e ele temos, e vamos fazer um acordo, afirmou, apontando para Bush.
O presidente brasileiro comparou a situação dos dois países frente negociação. Os Estados Unidos levam vantagem, porque negociam em nome deles mesmos. Nós, não. Lembrou que o Brasil negocia em bloco, no âmbito do G-20, e precisa lidar com a União Européia, que também é um grupo de nações. Temos que conversar com os mais pobres e com os mais ricos também.
Lula disse ainda que as negociações de Doha não se comparam s da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), projeto defendido pelos Estados Unidos que o Brasil não encampou e não se concretizou. Ele confirmou que era mesmo contra a idéia e justificou dizendo que privilegia a integração sul-americana. Antes, já havia enfatizado que a integração regional é uma prioridade e o melhor caminho para reforçar a democracia.
A Rodada Doha também havia sido tema do encontro de ontem entre Lula e o presidente da Alemanha, Horst Köhler.
O alemão se disse a favor da liberalização comercial, mas ponderou que as decisões na Europa precisam ser tomadas pela maioria. E Lula afirmou que os subsídios aos agricultores norte-americanos são "nefastos" para o livre comércio.
O subsídio é um incentivo financeiro dado ao produtor para que ele possa praticar um preço competitivo e não levar desvantagem em relação a concorrentes de países em que o custo de produção é menor.