Luiz Inácio Lula da Silva, logo após o primeiro turno, que lhe deu o dobro da votação do segundo colocado, José Serra, levando-o para o segundo turno a partir de visível vantagem, declarou que em um eventual governo seu a área econômica não terá importância especial. Para ele, o Ministério da Fazenda será apenas mais uma pasta, nem mais nem menos importante que as outras.
Talvez seja discurso de campanha. Ou convicção, se não desconhecimento.
Um país se mantém e pode crescer com o que produz e negocia; com isso, mais empréstimos; ou, com isso, empréstimos e fabricando dinheiro e inflação.
Até o Plano Real, a última era a fórmula aplicada pelo governo brasileiro. Produzia e negociava pouco, tomava empréstimos e fabricava dinheiro e inflação. Como aqueles outros fatores de desenvolvimento eram insuficientes, tomava cada vez mais empréstimos e fabricava mais dinheiro. Resultado: uma hiperinflação, que chegou a ser a maior do mundo.
Vários choques econômicos foram inventados para debelar a inflação galopante, porém sem sucesso. Até que o Plano Real conseguiu resultados positivos, domando o fenômeno inflacionário e deixando os índices em proporções civilizadas, que se mantêm até hoje. Para continuar andando, reduzida quase a zero a fabricação de dinheiro inflacionário, o Brasil ampliou seu endividamento externo e interno. O serviço da dívida, ou seja, os juros a serem pagos, mais as importâncias necessárias para a rolagem do principal, foram consumindo os recursos que serviriam para investimentos em produção. A dívida foi crescendo, mas o País, não.
Em acordos com o Fundo Monetário Internacional, o Brasil comprometeu-se a um duro ajuste fiscal, o que significa gastar cada vez menos para que sobre algum dinheiro para pagar os juros, parcelas da dívida e ainda tentar diminuir seu montante. É mais ou menos a situação em que nos encontramos, com pelo menos um dado positivo em termos de ganhos próprios de recursos: o aumento do superávit na balança comercial, que se repete todas as semanas e já prenuncia um resultado final superior ao projetado pelo governo e pelo próprio FMI. Diante deste quadro, aqui descrito de forma propositalmente simplificada, é óbvio que a área econômica do governo tem excepcional importância. Pedro Malan (ministro da Fazenda) e Armínio Fraga (presidente do Banco Central) passaram à posição de superautoridades, não por prestígio político, mas porque de suas ações passou a depender o País com as opções de ajustar-se ou afundar.
Lula crê numa terceira via. Acha que dá para, se não ignorar a área econômica, reduzir sua influência. Fala em produzir mais, ampliar as ações nos campos social, educacional, de habitação, etc. E sem dar calote nos credores. Ele fala, portanto, num programa ideal, porém difícil, se não impossível, de executar a curto prazo. Onde o dinheiro para pagar essa conta? O aperto atual terá de continuar e até aumentar, sob pena de soçobrarmos, enterrados no montão de dívidas contraídas para estancar as emissões de moeda inflacionária. A minimização da importância da área econômica parece discurso de campanha. Mais do que isso, é seu sonho, uma meta desejável, porém de dificílimo alcance. Daí porque o mercado espera, com ansiedade, que ele diga o quanto antes quem serão seus homens da área econômica, caso eleito. O ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central serão importantíssimos, queira ou não o futuro presidente, seja ele Lula ou Serra.