O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na noite de ontem que "só um doido" disputaria a reeleição se tivesse alguma dúvida de que as condições econômicas piorariam num segundo mandato, em clara provocação ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em discurso de improviso, durante encontro com educadores, Lula fez uma previsão positiva para os próximos quatro anos, com aumento de salários, distribuição de renda e melhoria da escola pública.
"Só um doido é que aceitaria um segundo mandato quando as condições estão desfavoráveis", afirmou. "Já teve gente que aceitou, não faz muito tempo", completou Lula, sob palmas. "Eu não aceitaria." Ao deixar o encontro, em um hotel de Brasília, ele negou que tivesse chamado Fernando Henrique de doido. "Não chamei não.
No discurso, de 40 minutos, Lula afirmou que manterá na campanha o estilo "paz e amor". "Não radicalizei nem quando apanhei durante um ano e meio", destacou. "Agora, que estou ficando calmo, você quer que eu radicalize?
O presidente lamentou ter perdido "companheiros de muita qualidade" no governo. E sugeriu que ex-ministros como José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), que caíram após escândalos, foram apressados. "Apanhamos muito e perdemos companheiros de qualidade, que tiveram muita pressa e acreditaram que as coisas poderiam ser feitas de anteontem para ontem", comentou.
Lula voltou a dizer que colherá frutos dos investimentos e ações do seu governo. "Assim como eu apanhei muito, plantei. E agora estamos podendo chupar os frutos e o povo está vivendo melhor, comendo melhor e ganhando mais.
Em outro momento, disse que o "jogo da reeleição" não está ganho. "Não é uma eleição fácil. Aliás, num jogo aos 42 minutos do segundo tempo, se o time que está ganhando de 2 a 0 recuar, não fizer falta e cavar pênalti, o adversário vai para cima e aí vale gol de mão, de cabeça e de canela.
O discurso do presidente empolgou a platéia, que, momentos antes estava desanimada. O assessor Marco Aurélio Garcia chegou a dormir por cerca de dez minutos durante a fala do ministro da Educação, Fernando Haddad.
Vermelho
Durante entrevista, antes de discursar, Lula negou que tenha escondido os símbolos do PT nos programas da propaganda eleitoral gratuita. "Isso é uma bobagem. Todo mundo sabe que sou do PT", reagiu. "Não estamos vendendo camisas ou estrelas do PT, estamos vendendo um candidato.
Lula considerou estranho alguém dizer que ele tenha tentado "esconder" o partido. "Sou a cara do PT e o PT é a minha cara, tenho muito orgulho e não abro mão disso", salientou. "Até porque fui eu quem criou o partido." Depois, justificou a estratégia que vem sendo utilizada: "Não fiz programa para a oposição, mas para o povo.
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), também falou ontem sobre o sumiço do símbolo do partido nos programas de TV. Disse que o PT não tem "necessidade adolescente" de mostrar a sua tradicional cor vermelha na propaganda e argumentou que o emprego das cores da Bandeira Nacional foi definido pela coordenação da campanha, que reúne vários partidos. "Não está descartado (o uso do vermelho) nem há necessidade de afirmação em relação a isso", destacou.
Segundo Berzoini, a simples presença do "mais ilustre filiado do partido" – referência a Lula – já é suficiente para mostrar a trajetória do PT. "Ele não é candidato de um partido só. É candidato de partidos coligados e de outros setores da sociedade inclusive prefeitos de partidos adversários", afirmou. "A cor do PT é conhecida por todos os brasileiros. Nós sempre a utilizamos, mas sempre utilizamos as cores verde e amarela, que marcam nosso forte compromisso com o projeto nacional.
Segurança – Na entrevista, Lula evitou antecipar se abordará o tema da segurança nos próximos programas. Ele demonstrou irritação ao ser questionado sobre a ausência dos temas ética e corrupção nos programas dele e dos demais candidatos, embora tenha citado rapidamente, na TV, os escândalos. "Acho que cada um fala o que bem entender.