O primeiro encontro do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, foi reservado e durou 55 minutos. O próprio Lula informou a seus assessores e a alguns parlamentares que foi uma das reuniões mais cordiais das quais participou, remetendo-o à época em que, lado a lado, ele e Fernando Henrique lutaram pela redemocratização do País e pelas eleições diretas, na célebre campanha das ?diretas-já?, em 1984. Os dois falaram também da transição de um governo para outro e do esgotamento físico pós-campanha.

Da segunda reunião, também realizada no Palácio do Planalto, participaram Lula, Fernando Henrique, o vice Marco Maciel, o vice eleito José Alencar, os ministros da Fazenda, Pedro Malan, da Casa Civil, Pedro Parente, e da Secretaria-Geral da Presidência, Euclides Scalco, além do presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), do prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci, nomeado hoje coordenador da equipe de transição, e do ex-deputado Luiz Gushiken.

Na reunião aberta, Lula repetiu o que disse a Fernando Henrique a sós: que seu partido, o PT, está impressionado com o fato de o presidente da República estar comandando o processo de transição de um governo para outro. Lula agradeceu a Fernando Henrique e disse que essa é a demonstração de maturidade democrática e política do Brasil, em que o processo de transição se dá de forma tão transparente.

Depois das duas reuniões com Fernando Henrique, Lula fez um breve pronunciamento, no segundo andar do Palácio do Planalto. Elogiou muito o presidente da República. ?Creio que o momento que nós estamos vivendo deve ser singular na história política da América Latina. A disposição do presidente Fernando Henrique Cardoso de fazer do processo de transição uma demonstração positiva da prática democrática muito agradou ao nosso partido? disse ele.

Lula chegou a dizer que no Brasil, certamente, nunca houve uma transição democrática como a atual. ?Eu lembro que há dois anos atrás, em várias Prefeituras deste País, os prefeitos que tomaram posse em primeiro de janeiro não tinham a mínima informação sobre a administração anterior?. E o presidente Fernando Henrique, segundo Lula, pôs praticamente o governo à disposição de sua equipe de transição. Essa equipe, conforme já fora adiantado pela direção petista, será técnica. Terá um coordenador, o prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci, que foi também o coordenador do programa de governo da campanha de Lula. Palocci deverá pedir novamente licença do cargo nos próximos dias, a exemplo que fizera para trabalhar na campanha de Lula.

O presidente eleito afirmou ainda que a colaboração do presidente Fernando Henrique é tão significativa, que Palocci trabalhará ao lado do ministro Pedro Parente, com a garantia de que terá acesso a todos os dados do governo. Parente chegou mesmo a fazer um glossário de termos técnicos, destinado a ajudar a equipe do novo governo. Lula lembrou ainda que num passado recente um presidente saiu pelas portas do fundo do Planalto para não passar a faixa ao sucessor. Ele não deu os nomes, mas quem protagonizou esse fato foi o ex-presidente João Baptista Figueiredo, para não ser obrigado a pôr a faixa no seu sucessor, o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP).

Para evitar especulações a respeito da equipe de governo, Lula disse que resolveu separar a de transição com a de seu ministério. Ele disse que seu ministério não terá só petistas ou integrantes dos partidos que fizeram parte da aliança vitoriosa. ?Quero fazer a escolha do ministério da forma mais democrática possível, compondo com os partidos políticos que me apoiaram, mas também outros setores da sociedade que não estão ligados a nenhum partido político?, disse Lula.

Ao lado de Palocci, trabalharão também os líderes do PT na Câmara, deputado João Paulo Cunha (SP), e no Senado, senador Tião Viana (PT-AC). Eles ficarão encarregados de negociar a pauta de projetos que devem se aprovados nos dois meses antes da posse de Lula. Entre os projetos importantes, estão o Orçamento-Geral da União para o ano que vem, a emenda constitucional que vai permitir regulamentar o sistema financeiro por várias leis complementares e não apenas por uma, como determina sentença do Supremo Tribunal Federal (STF). Assim o próximo presidente poderá fazer a regulamentação do artigo 192 da Constituição por partes.

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