Em entrevista que durou 1 hora e 11 minutos a rádios dos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da biblioteca do Palácio do Planalto, em Brasília, reclamou de leis "que o próprio Congresso Nacional aprovou" que emperram obras na região, como a BR-319 e o gasoduto Coari-Manaus.
"A BR 319 no Amazonas já existe, mas a gente quer restaurar e tem de tratá-la como se fosse uma estrada nova, com ações contra e recursos. Não é culpa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), porque são leis que nós mesmos aprovamos no Congresso. A legislação obriga a parar. Para vocês terem idéia da gravidade, quando fui a Manaus (em junho deste ano) ver o gasoduto (Coari-Manaus), fui fazer o primeiro pingo de solda. No dia seguinte estava em Brasília e soube que alguém tinha entrado com recurso. Mas a gente continua porque a região Norte precisa sair do atraso que foi submetida nos últimos anos", disse
Lula afirmou que o governador eleito do Acre, Binho Marques (PT) será seu "parceiro", como Jorge Viana, e se disse compromissado com o Estado. "Está garantido o compromisso porque não é só entre o governador eleito do Acre. É com o desenvolvimento de toda a região Amazônica. Estou convencido que a região Norte e Nordeste têm de ser prioridades para ter um Brasil um pouco mais justo. Quando nós tomamos decisão de fazer parceria com o governo (do Acre) para a BR 364 é porque temos chance de fazer com que o Norte possa atrair empresas do país e do mundo com mais facilidade de transporte e transformar a região norte num pólo exportador. O governo peruano também está interessado na Transoceânica"
O presidente assumiu compromisso ainda sobre o braço do gasoduto de Urucu (em Coari, no Amazonas) para Porto Velho (Rondônia) e dos projetos das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, também em Rondônia. "É importante que você conheça o desenvolvimento próximo a Itaipu para perceber que tipo de desenvolvimento Rondônia vai ter com as duas hidrelétricas. Durante a construção dessa obra, temos milhares e milhares de empregos. Vamos pagar royalties para todas as cidades nos arredores. Vai ser desenvolvimento para a região e para o Brasil como um todo. E vamos fazer licitação porque a obra é necessária para o Brasil"
Outra questão polêmica abordada na entrevista foi a questão da TV Digital, cujo pólo de produção de semicondutores é alvo de disputa entre o Amazonas e Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A disputa foi minimizada por Lula com o compromisso que manter o pólo no Amazonas como "justiça com a região Norte". "O Amazonas, sobretudo Manaus, tem um potencial extraordinário para produzir os componentes da TV Digital, de forma limpa, sem agredir o meio ambiente. Nós estamos levando em conta que a produção não é só decisão dos empresários, mas do governo, que nós sabemos que região a gente quer desenvolver, que incentivos que a gente vai dar a regiões escolhidas, sem danos ambientais", afirmou o presidente.
"Eu tenho compromisso do desenvolvimento da região e essa discussão da TV Digital causa tensão, briga entre estados do Norte com Sul e Sudeste. Mas o governo não vai abrir mão de escolher mais incentivos para desenvolver determinadas regiões. E nós temos interesse em desenvolver as partes do país que ficaram esquecidas. Sei de quem nunca foi a Manaus e critica o desenvolvimento para a região Norte do País. No governo Collor a coisa foi definhando e saímos de 80 mil para 50 mil trabalhadores e hoje temos 112 mil (na Zona Franca de Manaus). E quando chegar o gás (gasoduto Coari-Manaus) e a TV Digital vamos ter feito justiça com essa região abandonada tantos anos pelos governos do País.