Lula diz que governabilidade virá das urnas

Na cerimônia de lançamento de seu programa de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os problemas políticos do País serão resolvidos ?na eleição? de 1.º de outubro. Em tom de quem será reeleito no primeiro turno, o presidente mostrou ontem confiança em dias melhores, afastou a crise do horizonte e disse que terá ?vida nova? com a posse do novo Congresso porque construirá ?pessoalmente? a governabilidade, acenando até mesmo na direção dos adversários. Deu a entender que a vitória contundente nas urnas vai blindá-lo contra crises políticas e institucionais.

Depois de apresentar um programa sem metas quantitativas, com várias estocadas na gestão de Fernando Henrique Cardoso e alegando ter evitado a ?catástrofe? que ameaçava a economia, Lula apelou para o discurso do entendimento nacional. Numa rápida entrevista, disse que todas as críticas passarão após o nervosismo eleitoral.

?Pretendo conversar com todos os partidos para a gente discutir projetos importantes para o Brasil, porque não é possível alguém ter a estupidez de querer prejudicar só porque é um projeto do presidente Lula?, afirmou. ?Minha idéia é conversar com todos os partidos para dizer: ?Vamos pensar três quartos de tempo no Brasil e apenas um quarto na disputa. Até com a oposição.

Diante de uma platéia formada por petistas e aliados, Lula defendeu a reforma política, com fidelidade partidária e financiamento público de campanha. Na sua plataforma para o segundo mandato, as reformas defendidas em 2002 praticamente desapareceram. Sobraram apenas a política e a agrária. Ao pregar o financiamento público, o presidente justificou a decisão com o argumento de que, com a medida, ninguém precisará ficar ?atrás de empresários, correndo em época de campanha para pedir dinheiro?.

Em 40 minutos de discurso, Lula exibiu certeza de vitória no primeiro turno. ?Nós estamos vivendo um momento bom, porque as perspectivas de futuro são as melhores possíveis?, constatou. Muito aplaudido pelos companheiros, o presidente não escondia a satisfação. ?Eu olho o horizonte e fico imaginando o que pode atrapalhar o Brasil chegar lá. E não vejo. Até pode ter algum problema político, mas isso o povo resolverá agora, no dia 1.º de outubro.? Ao perceber que só falava como reeleito, disse que o vitorioso terá o seu respeito, seja ele quem for: ?Na política a gente precisa conviver com a adversidade.

Fidel

Na tentativa de justificar a generalidade de seu programa e o ritmo lento das mudanças, Lula citou o líder cubano Fidel Castro. ?O que me conforta é que há alguns anos eu estava visitando Cuba e perguntei ao Fidel como estava a construção do socialismo. Ele me disse: ?É um processo, camarada Lula??, contou, arriscando um portunhol para imitar o colega cubano.

A cerimônia foi marcada por momentos de descontração, como se Lula estivesse numa pajelança. Ao dizer que a educação é condição ?si ne qua non? para o desenvolvimento, não se conteve. ?Gostou do si ne qua non??, perguntou.

Bem-humorado, o presidente repetiu que não fará mudanças na economia. ?Não tem tremedeira por mudança, por aumento da política de juros dos Estados Unidos?, afirmou. Lula disse não ter feito mais em seu governo porque não poderia cometer nenhuma ?loucura?. ?A gente não pode dar um salto sem medir o resultado desse salto e as conseqüências dele.

Ao pedir mais uma ?chance?, repetiu o discurso de que já construiu os alicerces para levantar a casa e agora não terá tantos obstáculos. ?Eu dizia a vocês que só queria ser julgado no último dia do meu governo.

Lula não falou nada sobre o pouco que seu programa contém na área de segurança pública nem mencionou os sanguessugas – o escândalo da máfia das ambulâncias. Mas falou de gafanhotos. Contou que o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, pediu que o governo emprestasse uma aeronave para combater uma infestação de gafanhotos, mas, como o empréstimo dependia da aprovação do Congresso, não ocorreu em tempo hábil.

?Quando mandamos o avião já tinha terminado a praga?, contou Lula. Entre ?ohs!? de admiração da platéia, que fora conhecer seu programa de governo, ele emendou: ?É porque (o empréstimo) precisa passar pelo Congresso, precisa ser votado no Congresso. Então, os gafanhotos voando para lá… sabe?? A gargalhada foi geral.

Após citações internacionais, Lula tratou de enfatizar o sucesso na política externa. Disse que até recomendou ao chanceler Celso Amorim um ?choque de humildade? diante do ?crescimento? do Brasil no cenário internacional. ?Se em política interna, o ciúme na política é mortal, imagine na política internacional…?, comentou.

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