Rio – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje, em discurso na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, no Rio, que "a votação do salário mínimo ontem, no Congresso Nacional, não foi uma coisa séria". De acordo com ele, o projeto enviado pelo governo ao Congresso saiu de um acordo com as centrais sindicais, e "porque alguém acha que é bom para as eleições colocam R$ 8 bilhões a mais na Previdência, que já estava estourada em R$ 40 bilhões".
Lula deu a entender que vai vetar a extensão do aumento para os aposentados, o que poderia gerar este gasto adicional. "Não haverá, da minha parte, nenhum gesto que coloque em risco a estabilidade da economia e a seriedade da política fiscal dura por conta da eleição", afirmou.
Ele lembrou que o País já viveu inflação de 80% ao mês e que foram feitos muito sacrifícios para baixá-la, chegando a citar que, em 2003, "cortamos na própria carne". Segundo o presidente, a oposição "pode gargantear, pode blefar", mas o governo não. "Não iremos brincar".
O presidente afirmou também que, na campanha de 2002, todos os empresários lhe diziam que o câmbio deveria ser mantido como flutuante. "Pois bem, é flutuante", afirmou. Lula disse ainda que não será feita nenhuma alteração no câmbio, "por decreto, por medida provisória ou por presunção".
Juros
O presidente Lula sugeriu, ao lançar o programa Procaminhoneiro, no BNDES, que o Conselho Monetário Nacional ouça a demanda do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) seja reduzida na próxima reunião. Lula lembrou que ele (Lula) não faz parte do CMN.
O ministro Furlan discursou antes do presidente e chamou a atenção de Lula, afirmando que "dia primeiro de julho é dia de baixar a TJLP". Para o trimestre abril a junho, a TJLP em vigor é de 8,15% ao ano. Furlan brincou que espera que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, leve para o CMN "os bons fluidos do Rio de Janeiro", onde esteve no final de 2004 até fevereiro deste ano presidindo o BNDES, que baseia seu financiamento na TJLP. Também integram o CMN o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. A TJLP é utilizada principalmente nos financiamentos do BNDES ao setor produtivo.
Renda
Lula comemorou, no discurso no BNDES, pesquisas que mostram um crescimento da renda dos mais pobres, de cerca de 14%. Para o presidente, essas pessoas se tornaram consumidoras e passaram a ter acesso a benefícios "inalcançáveis".
Lula comparou os números ao crescimento econômico da China. "Mudamos a regra do jogo de que era preciso crescer e depois distribuir. Por menor que seja o crescimento, a justa distribuição ajuda no próprio crescimento", afirmou. O presidente também disse que as políticas de crédito consignado contribuíram para esse resultado. Ele disse que teve que brigar durante dois anos para viabilizar o microcrédito. "Está provado que o pequeno que toma dinheiro, paga, porque o nome dele é o maior patrimônio que tem", disse Lula. (Adriana Chiarini e Alexandre Rodrigues.