Depois de dois anos de crise política e de um relacionamento conflituoso com o Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá uma tarefa inadiável e exclusiva: criar um ambiente de interlocução com os partidos e compor uma maioria mais estável para governar os próximos quatro anos. Governistas e opositores são unânimes em avaliar que o sucesso político do segundo mandato depende do empenho pessoal de Lula. Segundo interlocutores do Planalto, o presidente precisa agir rápido para evitar fogo amigo e para impedir que as dificuldades de composição entre os diversos interesses dos aliados sirvam para a oposição desgastar o governo. "Quem vai dar o tom da relação política será o presidente. Política se faz 24 horas e 365 dias por ano", constatou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). O principal alvo de Lula será atrair o PMDB, partido que saiu das urnas fortalecido. Lula já garantiu ao PMDB que ampliará seu espaço no Executivo. Se confirmada essa estratégia, o PT deverá ser o partido que mais perderá postos na Esplanada,
Consciente da necessidade do apoio do PMDB, Lula poderá contar com facilidades que não tinha até essas eleições. O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, um dos principais adversários de Lula no partido, perdeu força. A interlocução com o PMDB no Estado ficará com o governador eleito Sérgio Cabral (PMDB). Outro contrário a uma composição com Lula o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), também foi derrotado e ficará sem mandato. Também da ala oposicionista, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), foi reeleito com uma fraca votação. Antes na oposição, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) revelou-se um forte aliado e teve participação fundamental para a vitória do petista Jaques Wagner ao governo da Bahia. Para aliados, o atual PMDB já é muito mais lulista. Nos cálculos do líder do governo no Senado, senador Romero Jucá (PMDB-RR), a ala governista do PMDB já chega a 78%, ou seja, há uma identidade maior com o governo.
"Na Câmara, o quadro é de alcançar a governabilidade de forma mais fácil do que no primeiro mandato. A governabilidade está ao alcance da mão", avalia o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Assim como Rebelo, lideranças de partidos aliados entendem que será mais fácil para Lula ter sustentação na Câmara com o interesse de partidos como o PTB, o PP e o Partido da República, a nova legenda formada pelo PL e Prona, de integrarem o governo, além do PMDB e do núcleo original de campanha formado pelo PT, pelo PSB e pelo PCdoB.
Na avaliação de governistas e de oposicionistas, Lula terá o apoio da grande maioria dos partidos no Congresso. O limite da oposição, segundo as avaliações dos dois lados, é de um terço do total dos 513 deputados. Com a situação mais favorável na Câmara Lula terá de se concentrar nos próximos dias em organizar sua base no Senado, Casa em que a oposição é mais agressiva e de onde partiram os principais ataques contra o Planalto. Enquanto na Câmara Lula mantém um núcleo de interlocutores suprapartidário, no Senado, o presidente está em posição vulnerável. A oposição já conta que terá pelo menos 40 votos dos 81 senadores. Sem o PMDB, seu principal parceiro na Casa, Lula continuará tendo problemas graves para votar projetos. Por isso, a bancada do PMDB quer o apoio do presidente para aumentar sua cota de poder no Executivo e no Congresso, tornando-se mais importante do que os demais partidos. O PT diminuiu a bancada, além do desgaste político do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que precisará da boa vontade da oposição, o PSDB e o PFL, para se livrar de eventual processo disciplinar.