O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou hoje a possibilidade de o governo federal renegociar as dívidas dos Estados e municípios com a União. "Podem esquecer suas reivindicações. Não há dentro do governo renegociação de dívida", disse, durante café da manhã com a imprensa, no Planalto, ao informar que não tratou desse assunto com o prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB).

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Mas Lula afirmou que a capital paulista Paulo precisa ser olhada "com carinho diferente" porque abriga cidadãos de todo o País, e não apenas paulistas.

Em pelo menos duas oportunidades da conversa, ele desvinculou qualquer ação da administração federal às eleições. Primeiro, afirmou que, em hipótese alguma, mexeria na taxa de juros para ganhar a eleição, ao lembrar que aumentaram 15 dias antes das eleições municipais e que, nem por isso a popularidade dele caiu. Depois, ao comemorar a aprovação do Projeto das Parcerias Público-Privadas (PPP) na Câmara, na noite de ontem (22), e ressaltar o benefício da proposta para o Brasil: "Só pode pensar que foi em benefício do governo os que só pensam na próxima eleição."

Lula elogiou o Congresso e, particularmente, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), que estava presente ao encontro, pela habilidade em negociar e conseguir aprovar até o que parecia impossível. "Parte do sucesso do governo deve-se ao comportamento do Congresso", reconheceu.

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Mas, sobre se João Paulo seria contemplado com uma pasta na reforma ministerial, desconversou, alegando que não tinha pressa em tratar do assunto. Lula, no entanto, sobre se concordava com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que disse que era santista e lembrou que São Paulo tem tradição de ter governadores que torcem para o Santos, como Mário Covas e Geraldo Alckmin (PSDB), respondeu: "Tem possibilidades."

Ao comentar a tentativa de os governadores receberem as compensações pelas perdas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) com exportação, o presidente, depois de acentuar que o assuntos era discutido com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fez uma defesa veemente da reforma tributária, após afirmar que não se queixou do caixa que recebeu. Para Lula, há uma questão séria a ser resolvida: a dificuldade do ICMS. "Eu acho que, votando, melhora para os Estados, que poderão arrecadar até 10% a mais do que arrecadam hoje", afirmou, ao salientar sempre tem algum dos 27 Estados "implicando" com benefícios que receberá. "Todo mundo tem medo de mudanças, de coisas novas."

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Auto-estima – Lula voltou a falar da auto-estima e da necessidade de serem realizadas campanhas como esta que o governo promove e sugeriu que gostaria que a imprensa, em geral, encampasse uma campanha para "falar ao coração". Para exemplificar a importância da auto-estima e do orgulho que um povo precisa ter de si – brincando que orgulho é igual colesterol, tem o bom e tem o ruim -, o presidente citou o documentário "Sob a névoa da guerra", que mostrava que os Estados Unidos foram derrotados pelo Vietnã por causa da auto-estima do povo.

"Se eles (americanos) destruíam uma ponte, os vietnamitas iam lá e construíam uma de bambu e continuavam a passar", observou ele, que passou a falar, então, da importância da família para a base de uma sociedade bem estruturada. O presidente acha que é preciso preservar a família porque esta é uma forma de reduzir a violência. "Este é um dos problemas mais graves do País", disse Lula, ao declarar que uma pessoa só vai para a rua quando não tem mais ambiente em casa.

Crise – Em vários momentos, Lula elogiou João Paulo e o Congresso, em geral, mas criticou alguns discursos, justificando que, em muitas das manifestações da oposição, há exageros. "De vez em quando, o discurso de um adversário vira crise", comentou Lula, que emendou, ironizando: "Vira crise na cabeça dele, não no governo. No governo, não tem crise nenhuma."

Lula pediu que todos aproveitassem esse momento natalino para uma reflexão e lembrou que ele mesmo tem de refletir para tomar atitudes. "Tem um tempo na nossa vida que, quando não tem muita responsabilidade, tem político que pega o barbeador, pensa que é microfone e começa a dar declarações", disse ele, ao comentar quem, às vezes, se surpreende com coisas que a imprensa destaca e que ele não deu a menor importância. "Quando você é presidente, tudo que você fala, pesa, para o bem, e para o mal. Portanto, tem de ter o maior cuidado com tudo."