O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje em Quito que defendeu a entrada dos Estados Unidos no grupo “Amigos para a Venezuela”, que tem, entre seus integrantes titulares, além dos EUA, o Brasil, o Chile e o México, e como observadores a Espanha e Portugal.
Segundo Lula, somente com a existência do contraditório – os EUA pensam diferente do Brasil a respeito da solução para a crise da Venezuela – poderá ser encontrada uma solução que evite a guerra civil no país vizinho.
“Eu fui uma das pessoas que acharam que os EUA deveriam participar. Porque os EUA têm um pensamento diferente do meu, possivelmente mais próximo da oposição da Venezuela do que o meu. Então, se quero negociar, tenho que colocar alguém que pensa diferente de mim, para que no debate a gente encontre um denominador comum. Porque, se colocarmos somente amigos da oposição, o governo não aceita; se só amigos do governo, a oposição não aceita”, explicou Lula, minutos antes de embarcar de volta para o Brasil, encerrando sua primeira viagem internacional depois de empossado.
Ele foi a Quito para acompanhar a troca de poder no Equador – saiu Gustavo Noboa e entrou Lucio Gutiérrez.
Lula disse que os presidentes que participaram da reunião de quarta-feira – Álvaro Uribe, da Colômbia; Ricardo Lagos, do Chile; Gonzalo Sánchez de Lozada, da Bolívia; Gutiérrez, do Equador, e Alejandro Toledo, do Peru, além dele próprio -, defenderam o princípio da democracia e do respeito como forma de pacificar a Venezuela.
Nessa reunião foi criado o grupo “Amigos para a Venezuela”, que deverá oferecer subsídios e apoio político para a mediação que o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), César Gaviria, está fazendo entre as partes em conflito no país caribenho.
“Nós não estamos querendo dizer o que tem de ser feito. O povo da Venezuela é inteligente para saber o que é melhor para ele. Nós queremos o melhor e não o pior para a Venezuela. Esse grupo de amigos pode dar a sua contribuição”, disse Lula.
Segundo ele, esse trabalho só dará certo se houver disposição do governo e da oposição venezuelana de aceitar as sugestões. “Nós estamos satisfeitos com a reunião. Ela mostrou a responsabilidade dos chefes de Estado aqui presentes, com uma solução tranqüila e pacífica para a Venezuela”, afirmou Lula, que liderou seus colegas governantes para criar o grupo de apoio ao vizinho.
Em princípio, os EUA não queriam que fosse feito o movimento. Mas, diante da certeza da derrota diplomática, os norte-americanos cederam. Eles enviaram ao Equador quatro funcionários graduados: Otto Reich, subsecretário de Estado para a América Latina, Curtis Strublle, Clay Johnson III (chefe da delegação) e John Maisto, este último membro do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.
Depois de uma reunião com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, os EUA recuaram. O Brasil também.
Durante o almoço do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com Lula, no Suissôtel, ficou acertado que os EUA teriam uma cadeira no conselho permanente do grupo. Lula pediu a opinião de Chávez.
Este teve de concordar com a entrada dos norte-americanos porque não tinha outra saída. Ontem, ao deixar Quito, Reich deu a entender que o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, poderá participar da primeira reunião do grupo de amigos, até que seja encontrado outro nome. Pelo acordo, respondem pelo grupo chanceleres ou funcionários graduados dos membros.