Lula confia no diálogo com MST para evitar invasões de terra

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confia no diálogo para acabar com as invasões de terra promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmou hoje o presidente do PT, deputado federal José Genoino (SP). “Lula sempre afirmou na campanha que vai tratar a questão com negociação, com diálogo eficaz e permanente, que será estabelecido para evitar que a corda se quebre”, disse Genoino, após uma reunião entre ele, o coordenador político do governo de transição, o deputado federal José Dirceu (PT-SP), e a direção nacional do MST.

“Há questões que podem ser tratadas com nível de agilidade maior, como as dívidas, a situação social dos acampamentos, a desburocratização do processo de reforma agrária. Vamos examinar com cuidado para não deixar que a água do copo entorne”, disse Genoíno. Ele garantiu que haverá uma relação de negociação e de respeito, não pautada pela criminalização do movimento. “Vamos tratar o movimento como autônomo e com todo o respeito que merece. Onde tiver divergência, será conversado”, apontou.

Segundo José Dirceu, a reunião serviu para falar sobre a agenda e a pauta do governo que vai tomar posse. Entre os temas abordados, eles discutiram a situação atual dos acampamentos e acampados, a integração da reforma agrária com o projeto Fome Zero e como assentar os sem-terra acampados. O grupo também discutiu temas como a agricultura familiar e o analfabetismo no meio rural, que, segundo José Dirceu, chega a 60% em alguns locais, como o Nordeste, e está em 30% na média nacional.

No encontro, foi discutido ainda o fortalecimento da ouvidoria que está sendo criada pelo governo Fernando Henrique Cardoso. “Ela é muito importante para evitar que os conflitos cheguem à violência e por fim ao latifúndio no Brasil”, comentou Dirceu. “A reforma agrária é uma agenda social tão importante como o combate à fome”, completou.

O MST entregou uma série de documentos e de medidas que considera emergenciais, que serão levados a Lula. De acordo com Dirceu, não houve menção a nomes de ministros nem mistérios na reunião. “Discutimos a estrutura do ministério, a necessidade de reformulação no Incra, seu envelhecimento, necessidade de maior integração com Poder Judiciário para destravar uma série de procedimentos que estão parados”, contou Dirceu. Ele explicou que a orientação é não envolver os movimentos em discussão de nomes para ministérios, para preservar a autonomia dos mesmos.

De acordo com Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, o perfil que a entidade considera ideal para ser ministro da Agricultura é uma pessoa com conhecimento técnico sobre a reforma agrária. Ele explicou, também, que o MST não quer que a pasta e os órgãos vinculados à ela, especialmente o Incra, sejam loteados pelos partidos aliados, para que o governo obtenha apoio, mas que tenham autonomia na sua atuação.

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