Montevidéu – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu hoje "fazer justiça" ao vice-presidente ministro da Defesa, José Alencar, e à empresa dele, a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), ao cobrar do PT o pagamento das 2,75 milhões de camisetas que havia encomendado à firma em 2004. O valor do débito alcançou R$ 12 milhões, dos quais R$ 1 milhão foi pago em espécie pelo diretório nacional do partido e, diretamente, ao filho de Alencar, Josué Gomes da Silva, que preside a companhia. Em princípio, não há comprovação da origem do dinheiro no caixa da legenda, o que gerou a suspeita de caixa dois. A sigla ainda precisa saldar os R$ 11 milhões restantes.
"Queria aproveitar e fazer justiça não apenas ao José Alencar, como à Coteminas. Porque a Coteminas fez um acordo comercial com o PT, vendeu as camisetas e o PT tem de pagar", afirmou Lula, na porta do Edifício Mercosul, onde a reunião dos presidentes do bloco ainda prosseguia. "Não caberia à Coteminas saber quem deu o dinheiro para o PT pagar."
Ao tratar do tema em pouco mais de um minuto, ele afirmou quatro vezes que "o PT tem de pagar" a conta. Lula disse que foi "normal" a atitude da empresa de cobrar a agremiação pela encomenda e que a Coteminas "fez o que devia ter feito". "A anormalidade é que o PT ainda não pagou a Coteminas", insistiu.
O caso tornou-se mais um imbróglio para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios destrinchar. Ontem (08), Silva afirmou que não acionará o PT no Judiciário porque está seguro de que a dívida será quitada. Mas ele acrescentou que, desta vez, espera que seja usado dinheiro limpo. "Você acha que depois de tudo, eles (dirigentes do partido) vão tentar nos pagar com caixa dois?", ironizou.
Em princípio, a cúpula da legenda esperava pagar a Coteminas em 48 meses e propôs a Silva quitar o débito em 48 meses, mas ele não aceitou. Corrigida pela taxa Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e outros encargos financeiros, o débito contraído pela sigla com a compra das camisetas, espalhadas por todo o País na campanha municipal de 2004, alcança R$ 12.279.036,31, nos cálculos da Coteminas. Mas há de se descontar R$ 1 milhão de origem duvidosa, pago. O secretário nacional de Finanças e Planejamento da agremiação, Paulo Ferreira, assegurou que as negociações continuarão no início de 2006 – em especial, sobre os juros da dívida com a Coteminas, hoje o maior credor do PT.