Brasília (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou uma manifestação favorável do primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, às negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) para cobrar uma posição mais ambiciosa da União Européia sobre a abertura de seu mercado agrícola e a redução dos subsídios a seus agropecuaristas. A ausência de propostas aceitáveis sobre esses temas, por parte de Bruxelas, poderá levar ao fiasco a Conferência Ministerial da OMC em Hong Kong, em dezembro, o que significará o inevitável fracasso da rodada e o desgaste da organização. O apelo a Blair, por meio de carta enviada hoje (15) a Londres, teve uma motivação substancial: o Reino Unido preside neste semestre a União Européia.
"É indispensável que a União Européia dê sinais claros de que está efetivamente disposta a abrir seus mercados e a reduzir os subsídios internos, que hoje são, de longe, os maiores do mundo", insistiu Lula. "Estou certo de que os países em desenvolvimento não deixarão de fazer sua parte em prol do nosso objetivo comum de fortalecer o sistema multilateral e tornar o comércio mais livre e mais justo, respeitados os critérios de proporcionalidade e flexibilidade que estão no cerne do tratamento especial e diferenciado consagrado pela OMC e reforçados em Doha. O Brasil tem plena consciência do que deve fazer e, na verdade, já tem feito pelos países mais pobres", completou, em tom de lição de moral.
O pretexto para a correspondência foi um discurso de Blair, ontem, em Mansion House, em Londres, no qual destacou a necessidade de uma conclusão rápida e exitosa da Rodada Doha, para o benefício de todas as Nações, especialmente os países em desenvolvimento e as populações mais pobres do mundo. O presidente Lula destacou suas convicções de que o combate à pobreza será um elemento essencial para a segurança e a paz mundial e de que a eliminação das "distorções injustas e injustificadas" no comércio internacional é a única ferramenta para incorporar milhões de pessoas à dinâmica da economia mundial.
O presidente Lula destacou que "o momento é crucial". Lembrou que os Estados Unidos fizeram um gesto relevante sobre a redução dos subsídios mais distorcivos ao comércio agrícola. Insuficiente, esse movimento terá de ser somado a novas disciplinas sobre as subvenções aos produtores rurais – decisão de Washington que dependerá de iniciativas mais generosas da União Européia na área agrícola. Lula reiterou ainda que "os países em desenvolvimento não deixarão de fazer sua parte em prol do nosso objetivo comum de fortalecer o sistema multilateral e tornar o comércio mais livre e mais justo".
Chanceleres
Em Montevidéu, hoje (15), os chanceleres dos quatro países do Mercosul reuniram-se para reafirmar seus compromissos com o G-20, a frente de 20 economias em desenvolvimento que insiste que as negociações da OMC resultem na efetiva abertura de mercados agrícolas, a eliminação de subsídios às exportações e a redução substancial das subvenções a produtores agropecuários. Também reiteraram o apoio ao princípio de que as decisões finais da Rodada sejam implementadas de forma diferenciada pelas economias menos desenvolvidas.
"A poucas semanas da Conferência Ministerial da OMC em Hong Kong, os ministros expressam suas preocupações com a falta de flexibilidade demostrada por certos países desenvolvidos para reduzir substancialmente ou eliminar o protecionismo agrícola e os subsídios dos quais são responsáveis", afirma a declaração final do encontro, do qual participou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Para o Mercosul, somente o avanço nas negociações sobre agricultura poderá gerar respostas proporcionais em outras áreas das negociações", completou, referindo-se a ofertas nas áreas industrial e de serviços.