A explosão de emoção foi tamanha que a rigidez do protocolo e a formalidade dos ministros togados na cerimônia de diplomação do presidente eleito não resistiram ao choro compulsivo de Luiz Inácio Lula da Silva. Duramente criticado na campanha eleitoral por não ter cursado uma universidade, Lula não deixou por menos: “Se havia alguém no Brasil que duvidasse que um torneiro mecânico saído de uma fábrica chegasse à Presidência da República, 2002 provou exatamente o contrário”.
O presidente precisou de um gole de água e tomar fôlego para concluir: “Eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu País”, disse, encerrando com um tapa na mesa, já sob aplausos da platéia. Mais tarde, no restaurante Piantella, onde almoçou, Lula disse que quis responder às elites. “Fiz um desabafo.” O vice-presidente eleito, senador José Alencar (PL), a quem Lula chamou de “lúcido e leal companheiro”, também chorou muito.
O presidente do Congresso, senador Ramez Tebet (MS), assumiu suas lágrimas. “Me emocionei, sim, muito, e tenho orgulho de ver a democracia brasileira.” Até o sisudo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim, amigo de Lula desde a Constituinte de 1987, cedeu à emoção e aos argumentos do presidente eleito. “Evidentemente, um diploma conferido pela maioria de uma Nação é melhor do que qualquer outro.” O documento é o reconhecimento da Justiça Eleitoral de que os 52,7 milhões de votos garantem a Lula o direito de governar o País.
No discurso feito pouco antes, Jobim já havia dado um tom mais emotivo à cerimônia, ao lembrar uma frase do ex-presidente do PMDB, Ulysses Guimarães, morto em 1992. “Vá em frente. Caminhe rumo ao sol que é luz e não rumo à lua, que é noite.” O futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que a partir de janeiro terá de lidar com a frieza dos números da economia brasileira, também se emocionou. “Política também se faz com fortes emoções porque o povo indicou nas eleições sua vontade de fazer uma coisa extraordinariamente nova para o Brasil e Lula sabe muito bem que um presidente tem de conhecer essa vontade do povo.”
No auditório do TSE estavam políticos, juízes, ministros advogados e parentes de Lula. A mulher, Marisa Letícia, acompanhou tudo com emoção, mas não chorou. Encerrada a solenidade, o presidente eleito recebeu cumprimentos e deu autógrafos, ainda emocionado.