Qualquer que seja o eleito, o futuro presidente da República precisará arregimentar apoio parlamentar fora das fileiras do seu partido e até mesmo das coligações que, como candidato, logre montar. É que muito dificilmente o eleito terá maioria parlamentar e, sem ela, não haverá governabilidade. O caminho normal para conseguir uma bancada expressiva é o candidato e seu partido trabalharem para eleger os seus candidatos a deputado e senador, abrindo-lhes espaços nos programas gratuitos de rádio e televisão e usando outros meios legítimos, para vê-los conquistar cadeiras no parlamento.

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O PT decidiu pela via contrária. Ao invés de os candidatos e o PT funcionarem como cabos eleitorais e instrumento principal para a reeleição do presidente Lula, este é que irá tentar ajudar os petistas que pleiteiam cadeiras no Congresso. Isso porque o partido convenceu-se de que os escândalos, tanto no caso dos mensalões, como em outros que se lhe seguiram e o atual, dos sanguessugas, desgastou os candidatos da legenda de forma comprometedora. Teme que, se expuser os candidatos petistas, proclamando os seus nomes como pleiteantes do voto popular, a coisa possa funcionar no sentido contrário. O povo vai se recordar que foram parlamentares que renunciaram para não ser punidos no episódio do mensalão e outros que foram condenados pela Comissão de Ética e se salvaram na mesa de pizza montada pelos seus companheiros de Câmara. Na vitrine, não atrairão votos, mas os espantarão. E, espantando, reduzirão as chances de Lula ser reeleito e ter uma melhor base eleitoral. No mais, o atual presidente e candidato a reeleição, que tanto lutou para parecer inocente na epidemia de corrupção que atingiu seus correligionários, não pode nem quer o risco de agora expor-se na mesma vitrine com companheiros que têm rabo preso.

A direção nacional do PT, por esses raciocínios e constatações, decidiu esconder os candidatos a deputado e apostar no carisma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso, está recomendando aos diretórios estaduais que, no horário da propaganda política dos parlamentares, haja maior visibilidade para ações do governo federal, mostrando a importância de o presidente ter uma base legislativa forte. O voto de legenda será estimulado e a disputa personalizada esquecida. Ao invés da imagem dos candidatos pedindo votos, o que se verá será propaganda sobre a redução do desemprego, o novo salário mínimo e outros feitos ou supostos feitos atribuíveis ao governo federal, personificado por Lula.

?Faremos uma campanha mais institucional de defesa da bancada federal e do próprio partido. Os candidatos farão aparições pequenas no horário eleitoral, todos terão o mesmo tempo de TV?, informa o secretário-geral do PT de São Paulo. Ricardo Berzoini, por exemplo, presidente nacional do PT, é candidato a deputado federal. ?Se o Berzoini tiver de responder pelo PT por conta de alguma agressão, irá falar, mas sem pedir votos. Cada candidato terá de se virar para conseguir votos?, afirma o secretário paulista, baseado nas instruções recebidas do diretório nacional.

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Este será um cenário muito diferente do que se viu em 2002. Então, Lula e todos os seus companheiros trabalharam abertamente para levar o PT ao poder. Nestas eleições, só vai pôr a cabeça para fora da trincheira o candidato Lula. Se terá sucesso ou receberá um petardo, só as urnas dirão.