Ao se defender hoje das críticas que tem sofrido por causa do envio de soldados brasileiros ao Haiti, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou atacando a forma de atuar das tropas norte-americanas. “Eu sei que tem gente que faz crítica, mas a verdade é que se nós não estivéssemos lá, lá estariam os militares americanos, fazendo o que jamais os militares brasileiros vão fazer, porque a orientação é que nós não iremos cumprir nenhum papel de polícia”.
Lula citou a questão do Haiti ao presidir a cerimônia de posse do ministro da Defesa, José Alencar, no Palácio do Planalto. Ele acrescentou ainda que os soldados brasileiros estão no Haiti para “tentar manter a paz até que aquele país possa, no próximo ano, convocar eleições e ter um presidente, um governo legitimamente eleito pelo voto direto”.
O discurso do presidente tem uma linha de raciocínio muito clara: a determinação do governo brasileiro de ocupar espaços em campos complicados como o do Haiti, para manter a sua política de reivindicar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). “A nossa presença no Haiti é a demonstração de que o Brasil não perderá uma oportunidade sequer”, declarou o presidente. E acrescentou: “Os nossos soldados retornarão ao Brasil porque certamente teremos muito trabalho para eles aqui dentro”.
Problemas
O vice-presidente e novo ministro da Defesa, José Alencar, terá um problema a administrar em relação ao Haiti: a aprovação, pelo Congresso, da autorização para o envio do novo contingente de 1.200 homens, que substituirão os soldados que estão lá, no momento, e já cumpriram os seis meses previstos. Os integrantes do novo contingente precisam embarcar no máximo até o início de dezembro porque muitos deles vão de navio. O comando das tropas da ONU continuará a cargo do general Augusto Heleno Ribeiro.
Em seu discurso, Alencar limitou-se a citar a presença das tropas brasileiras no Haiti, sem entrar em maiores detalhes. José Viegas, que se despedia, ressaltou que “graças ao preparo de nossos soldados, que têm um histórico impecável de participação em operações de paz, a nossa presença lá não pode deixar de ser percebida como demonstração de um apoio fraterno, pois todos sabem que o Brasil não tem interesses particulares a defender no Haiti”. Lembrou ainda, que a ação do Brasil foi respaldada de maneira clara pelos vizinhos Argentina, Uruguai, Peru e Chile.