O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou hoje (5) a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios e afirmou que é "um absurdo" a conclusão de que o PT foi beneficiado em 2004 por R$ 10 milhões oriundos do Banco do Brasil (BB). Ao falar rapidamente com a imprensa, pouco antes de ingressar nas sessões de debates da IV Cúpula das Américas, Lula insistiu que há "denuncismo vazio" – embora não tenha contestado diretamente nenhuma das inúmeras evidências reunidas pela CPI a respeito da operação financeira. O presidente repetiu várias vezes, como se fosse um mantra, a máxima de que é preciso apurar a fundo as denúncias para condenar ou absolver apenas depois de encontradas as provas.
"O que nós precisamos, no Brasil, é parar com o denuncismo vazio e com insinuações que são desmentidas no dia seguinte. Acho que as apurações estão sendo feitas. Elas serão feitas. É inexorável que elas serão feitas. Ou pelas CPIs ou pelo Ministério Público ou pela Polícia Federal ou pelo banco", afirmou, ao ser questionado se estava ciente sobre o ingresso de recursos do banco oficial nos cofres petistas. "O que eu acho prudente é as pessoas não acusarem ninguém, nem do PT nem de outro partido político, nem absolverem sem antes ter a prova final do processo. Senão, nós ficaremos execrando instituições e personalidades antes de a gente apurar."
Lula voltou a repetir que, na condição de presidente da República, não pode "nem absolver nem condenar" por antecipação e que permanece na "expectativa" do resultado das apurações da "verdade mais absoluta". Acabou por confidenciar que ao presidente não cabe fazer "declarações intempestivas" sobre tais episódios. Suas observações sobre o caso, entretanto, o colocaram em sintonia com as versões de repúdio à conclusão do relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disparadas por todos os envolvidos no caso – o BB, o banco BMG e o próprio Marcos Valério. As evidências reunidas pela comissão indicam que os R$ 10 milhões do BB acabaram no PT, numa operação intermediada pela DNA, agência de publicidade do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Serraglio anunciou nesta semana que o desvio de recursos públicos foi realizado por meio de campanhas de publidade contratadas pela Visanet – do qual o BB é um dos sócios majoritários. Mas os trabalhos não teriam sido realizados pela agência DNA, de Marcos Valério. A operação teria envolvido também o BMG. Lula, entretanto, argumentou que as instituições brasileiras mostram-se sólidas e em funcionamento da "forma mais democrática possível", depois de cinco meses pelos processos de investigação das três CPIs em curso no Congresso – as dos Correios, do Bingo e do Mensalão.
Mas voltou a insistir que os culpados terão de ser punidos com o rigor da Justiça – desta vez, sem mencionar o seu bordão "doa a quem doer". "Quem cometeu irregularidades terá de ser punido de acordo com a lei. Esse é o nosso desejo, é o nosso trabalho. E vamos fazer isso com tranquilidade", afirmou". "Ou eu aguardo o resultado final, acredito nas instituições que estão trabalhando e depois disso me pronuncio ou posso cometer injustiças com os outros e não posso me queixar dos que cometem injustiças comigo."
Se respondeu com facilidade à conclusão da CPI sobre o financiamento da corrida eleitoral petista em 2004 com recursos públicos, o presidente Lula preferiu esquivar-se de enfrentar a denúncia de que o Ministério da Justiça teria criado obstáculos ao acesso da Polícia Federal a documentos sobre o esquema do mensalão e as movimentações bancárias do publicitário Duda Mendonça, o marqueteiro das últimas campanhas do PT, no exterior. Mas, imediatamente, saiu em defesa do titular da Justiça, Márcio Thomas Bastos. "Eu não posso comentar o que eu não vi, me desculpe", respondeu aos jornalistas. "Acho que ninguém pode colocar em dúvida a lisura e o comportamento de um homem da estatura do Márcio Thomas Bastos", completou.