Ao mesmo tempo que se diz que ?a voz do povo é a voz de Deus?, também se afirma que não se deve pronunciar seu santo nome em vão. E o santo nome é de Deus, e não de Lula. As pesquisas geralmente vêm com a informação de que sua margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Isso significa que os resultados das pesquisas não são exatos; mas, como podem estar erradas numa margem pequena e para mais ou para menos, têm o condão de inspirar confiança, a menos que compradas, manipuladas ou sob outras suspeitas. Mas não seria absurdo imaginar que alguma pesquisa possa ter um ou mais desses vícios. Nessa advertência de margem de erro há uma referência apenas aos resultados. Portanto, quem ou o que é aprovado ou desaprovado. Não se refere, por óbvio, à margem de erro dos que foram ouvidos, daqueles que opinaram.
Assim, nas pesquisas políticas não há nenhuma referência (nem poderia haver) de margem de erro das pessoas ouvidas, ou seja, do eleitorado. E este pode ter errado duplamente: quando elegeu os políticos e quando analisa nas pesquisas suas atuações.
Se o povo aprova, incensa o político e sua voz aprovadora seria a voz de Deus. O mesmo deve ocorrer quando o elege. Está invocando o santo nome de Deus em vão é quando está aprovando e aplaudindo um mau governante, seja um prefeito, um governador, um presidente da República ou um parlamentar. Está embasando seu ato equívoco na infalibilidade do Senhor.
Falar mal dos políticos é tão moda quanto falar mal do próprio País. E com isto se desgosta amargamente o presidente Lula, em especial quando se fala mal fora de nossas fronteiras e quem fala são os brasileiros.
A mais recente pesquisa CNT/Sensus exonera Lula dessa falação, aprovando-o como presidente com o sim de 64% dos entrevistados. É a voz do povo, que é a voz de Deus, elegendo e aprovando o governo. Na opinião de Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, ?o que mantém a popularidade do governo é o funcionamento da economia, os programas sociais e o carisma do presidente Lula?. Mas ocorre que enquanto em relação a Lula a opinião pública mantém um índice de aprovação estável, em relação ao seu governo só o consideram positivo 47,5% dos entrevistados. Na pesquisa anterior eram 49,5%. Portanto, mais da metade dos consultados não aprova o governo de Lula e agora esse percentual é maior do que em abril, quando ocorreu a pesquisa anterior.
É evidente que a opinião pública tende a dissociar Lula do seu governo. Ele é bom, mesmo que o seu governo não seja. Qual o milagre? Quer nos parecer que o milagre resulta do fato de que nos erros e escândalos que marcam a atual administração, e mesmo naqueles da administração anterior, Lula sempre aparece como um presidente que nada sabe, nada vê, nada ouve, enfim, alheio ao que ocorre de impróprio sob suas asas. O governo, afinal de contas, é o dele. Ele é quem manda em toda a estrutura governamental.
A opinião pública, de acordo com esta pesquisa, considera negativo o indiciamento de Vavá pela Polícia Federal, sob suspeita de tráfico de influência e exploração de prestígio. Lula desde logo foi dizendo que não acreditava na culpabilidade de seu irmão mais velho. E desligou-se totalmente do caso. No mais, a maior parte dos brasileiros não tem condições de distinguir o que é problema do governo federal, dos estaduais e dos municipais ou qual dos poderes é responsável. Assim, se continua o caos no sistema de saúde; se o desemprego permanece; se o sistema educacional deixa muito a desejar; se não há segurança, e Lula se faz de inocente, não é ele indigitado pelo eleitorado.
O segredo do prestígio, apesar dos males, não parece estar só nos sucessos apontados pelo diretor da empresa de pesquisas. Também se deve à posição de Pilatos assumida por Lula, lavando as mãos mesmo quando lhe cabem responsabilidades.