Pela primeira vez desde que iniciou sua quarta campanha, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, admitiu hoje que, se for eleito, chamará tucanos para compor o governo. “Certamente haverá pessoas do PSDB com as quais iremos conversar”, afirmou, numa referência ao partido do presidente Fernando Henrique Cardoso e do candidato José Serra.

O petista disse que “tem gente boa dentro do PSDB”, mas não citou nomes. Depois, destacou que não só ele como “todo mundo” do PT tem “extraordinárias relações” com o tucanato.

        As afirmações de Lula foram feitas durante o primeiro encontro promovido pelo Grupo Estado com os quatro principais concorrentes ao Palácio do Planalto. Bem-humorado, ele tentou desconversar, logo no início da série “Presidenciáveis no Estadão”, quando perguntado se o PSDB poderia integrar um eventual Ministério. “Veja, eu tenho que tomar cuidado porque, senão, a manchete amanhã do jornal é a seguinte: ‘Lula faz aliança com o PSDB para governar’. E isso não me ajudaria neste momento”, comentou, rindo.

Em seguida, porém, repetiu que vê nomes qualificados não só no PT como em outros partidos. Citou o PSDB, o PMDB e disse que, caso vença, o ministro da Fazenda não necessariamente será das fileiras petistas. “Tem extraordinários quadros que não estão em partido nenhum”, alegou. Lula reiterou que, num possível governo do PT, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, não será mantido no cargo.

Na tentativa de acabar com especulações, o petista informou que não planeja nomear ministros “na base do conta-gota”. Ao contrário, pretende indicar “um pacote” de ministros de uma só vez. “E cada ministro vai ter que conhecer corretamente como é o semi-árido nordestino para ver a fome de perto”, advertiu.

Numa crítica indireta ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, o candidato reiterou que os nomeados terão de conhecer algumas regiões do Brasil, como as periferias dos centros urbanos e o Vale do Jequitinhonha, para não tomarem medidas “apenas pelas estatísticas”.

Preocupado com a interlocução no Congresso, Lula revelou que, se chegar à Presidência, sua primeira tarefa será pedir aos partidos que indiquem os nomes mais expressivos para líderes. A idéia é estabelecer um canal permanente de negociação com o Parlamento para executar reformas, como a tributária e a trabalhista. “E cabe ao presidente da República ter um exímio negociador para a relação entre o Executivo e o Legislativo”, completou.

Ao elogiar Fernando Henrique por sugerir um processo de “transição civilizada”, Lula afirmou que, se for eleito, gostaria de participar das decisões importantes, como a indicação de presidentes para agências reguladoras. Questionado se, neste período, aceitaria a proposta do presidente de viajar com ele e conversar com a diretoria do FMI, respondeu afirmativamente. “Já viajei com Fernando Henrique, é uma boa companhia”, brincou. Disse, porém, que acha “humanamente impossível” viajar nos 60 dias depois da eleição.

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