Lula acena com mais um ministério para o PMDB

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao PMDB tudo o que o partido queria ouvir para se manter na base de apoio do governo no Congresso. Em jantar com 16 dos 23 senadores peemedebistas na sexta-feira, do qual participaram também os dois ministros do partido – Eunício Oliveira, das Comunicações e o anfitrião Amir Lando, da Previdência Social – Lula surpreendeu os políticos com a defesa objetiva de um governo de coalizão e a oferta de mais um ministério para a legenda.

"Cada partido deve ocupar um espaço correspondente a seu tamanho. Dois ministérios para o PMDB são pouco", disse Lula, segundo relato do senador Ney Suassuna (PB), que teve o cuidado de anotar no verso de alguns de seus cartões de visita as frases mais "preciosas" do presidente. E isto não foi tudo. Além de enterrar de vez a idéia da reeleição para os postos de comando do Congresso, abrindo espaço à candidatura do líder Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado, Lula propôs a tão reclamada "parceria estratégica" entre petistas e peemedebistas nos Estados, com o PT apoiando "candidatos fortes" do PMDB, como os governadores Roberto Requião (PR) e Luiz Henrique da Silveira (SC), que disputarão o segundo mandato. Não haveria oportunidade de uma aliança, de acordo com Lula, em Brasília e no Rio Grande do Sul, porque o PT tem planos de concorrer.

Quando o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) disse ao presidente que gostaria, sim, de apoiá-lo e que o diálogo com ele era fácil, mas que a relação com o PT é sempre muito difícil Lula não hesitou. "Eu sei que é difícil, porque comigo é difícil também", afirmou, de acordo com as notas de Suassuna. E foi além, lembrando o caso da prefeita petista de Fortaleza, Luizianne Lins, eleita à revelia do PT nacional que fechara apoio ao candidato do PC do B, deputado Inácio Arruda. "Já disse ao José Genoíno (presidente do PT) que não podemos deixar isto acontecer. Não podemos permitir que uma minoria estrague uma coalizão".

Aventura

Tudo isso foi proposto com a garantia de liberdade ao PMDB para lançar candidato à presidência contra o PT em 2006. "Não tenho interesse por trás dessa parceria", disse o presidente, em defesa da coalizão em nome da governabilidade.

Segundo os participantes da conversa, porém, ele fez uma ressalva: a de que o PMDB deve, sim, ter um candidato ao Palácio do Planalto, mas se tiver um nome nacional com força política real para vencer a disputa. Nada de entrar em aventuras, recomendação que vale também para o Planalto.

"Não entrarei nunca numa aventura de deixar de fazer o necessário porque é impopular", comprometeu-se o presidente, ao lembrar que a força do Plano Cruzado elegeu 306 constituintes e 23 governadores do PMDB no governo Sarney, mas o plano fracassou porque os ajustes necessários foram deixados de lado por razões eleitorais. Lula também aproveitou a oportunidade para criticar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por não ter feito as correções necessárias no Plano Real em nome de sua reeleição.

Operação Desmonte

"A reunião superou nossas melhores expectativas, pela forma direta de o presidente decidir e apontar caminhos daqui para a frente", avaliou o senador Luiz Otávio (PA), que saiu da casa do ministro Amir Lando à uma hora da madrugada e ainda deixou Lula em uma roda mais fechada de conversa. Os minutos finais das cinco horas de jantar foram dedicados à operação desmonte da convenção nacional convocada para decidir, no dia 12 de dezembro, se o partido sai ou não do governo.

Participaram desta discussão final o anfitrião, o ministro Eunício, e seu colega da Coordenação Política Aldo Rebelo, os líderes do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), e os dois líderes peemedebistas no Senado e na Câmara, Renan Calheiros (AL) e José Borba (PR).

Uma das idéia discutidas ali foi a divulgação de uma nova bancada do Senado, fazendo um apelo à direção nacional do partido para que promova os entendimentos necessários a se criar uma alternativa à convenção nacional. Não se trata de adiar a convenção, mas de envolver o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), na busca de um grande acordo com o presidente do PMDB deputado Michel Temer (SP), e a ala mais rebelde do partido. Na conversa geral, o senador Gilberto Mestrinho propôs que a bancada tirasse uma nota contra o rompimento com o governo.

Enquanto a ala governista apara as arestas internas, o presidente dará seqüência ao trabalho de reaproximação do partido. Na quarta-feira, ele participará de um almoço com a bancada peemedebista na Câmara. A avaliação geral dos senadores é a de que, se Lula repetir aos deputados do PMDB o que disse a eles, todos sairão satisfeitos. Lá, vai insistir que caberá aos senadores peemedebistas, como maior bancada, apontar o nome do presidente do Senado, assim como caberá ao PT indicar o presidente da Câmara.

Independentemente da conversa com os deputados, já foi marcado um novo encontro para dar a partida oficial na articulação das alianças entre o PT e o PMDB nos Estados, em 2006. Segundo o senador Luiz Otávio, o presidente adiantou que pedirá a presença do presidente do PT, do ministro da Casa Civil José Dirceu, e de Sarney na reunião da semana que vem. Nem Sarney nem os dois senadores mais ligados a ele no PMDB – João Alberto (MA) e Papaleo Paes (AP) – compareceram ao churrasco preparado por Lando.

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