O governo Lula deverá concentrar toda a sua capacidade de arregimentação política, se é que ainda dispõe de forças nesse sentido, para amenizar em parte o vultoso prejuízo decretado pela nova fornada de acusações do deputado Roberto Jefferson, um trânsfuga da aliança de sustentação, que em tempo recorde conduziu a nau petista na direção de um mar encapelado como jamais se viu.
A segunda entrevista de Jefferson, divulgada neste domingo pela Folha de S. Paulo, não apenas confirma declarações bombásticas da anterior, como acrescenta pormenores sobre locais onde as conversas rolaram, sem pejo de informar que o local dos encontros foi o Palácio do Planalto.
Jefferson voltou a citar nomes de interlocutores, dentre eles José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira, ?a cabeça do PT?, conforme sua concepção pessoal, atribuindo a esses assessores próximos do presidente Lula o comando das operações do famigerado mensalão. O presidente do PT, José Genoino, diz que tudo é mentira e invenção de Jefferson, que segundo o deputado Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados, ?não está são?.
Shakespeare talvez enxergasse um certo método nesse sintomático surto esquizóide que acomete o ex-chefe da tropa de choque de Fernando Collor, nas últimas semanas. Mesmo buscando formas para desqualificar as denúncias e jogando com a atenuante que o deputado fluminense não consegue passar a mínima credibilidade, o governo também não conseguirá se desvencilhar dessa incômoda e deletéria figuração na sua base de apoio.
O mais atingido pelas chicotadas de Jefferson, descartando a pessoa do presidente da República, foi o ministro José Dirceu, a quem Lula estaria pensando pedir o cargo. A última contribuição sugerida por Dirceu ao governo é a proposta de saída honrosa, no bojo de uma reforma mais ampla do ministério. Assim, estaria livre de arcar isolado com o ônus da maior crise de autoridade enfrentada pelo amigo Lula.
A partir de hoje, com o início dos trabalhos efetivos da CPMI dos Correios e o primeiro depoimento de Roberto Jefferson na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar sobre o mensalão, a temperatura da política nacional corre o perigoso risco de chegar ao ponto de combustão.
As indefectíveis aves de mau agouro torcem pelo quanto pior melhor.