Lula enfrenta problemas políticos sérios para constituir sua nova equipe de governo. Sofre pressões dos que o apoiaram e até mesmo dos que estiveram contra ele, mas que agora são solicitados a aderir para formar uma base política e parlamentar que viabilize a governabilidade. O que se vislumbra é um loteamento do governo para posterior formação de um condomínio. O governo seria fatiado em partes maiores e menores, distribuídas entre os que se dizem autores da vitória do presidente. Só que ele se elegeu pelas próprias pernas. Nem o PT lhe deu colaboração palpável nem a crise, com um amontoado de escândalos, foi capaz de prejudicá-lo. Venceu o prestígio pessoal do presidente e suas táticas populistas. Se para reeleger-se poderia dispensar os apoios de siglas partidárias e lideranças políticas, para governar tal é impossível. E todos querem um pedaço do governo, dos ministérios às estatais e cargos de segundo ou até terceiro escalões, em troca de apoios.
Se não conseguir escapar dessas imposições, Lula vai ter de formar um condomínio e não um governo com uma linha de programas e idéias. Um condomínio do qual será o síndico, mas os condôminos estarão dispensados de pagar as taxas condominiais. Estas saem do bolso do povo.
As pressões maiores são por ministérios e pelo comando do legislativo. Nos ministérios pretendem agir forças como o PMDB, que reivindica pelo menos cinco pastas. Mais ministérios, se conseguir se unir. E um pouco menos, se continuar dividido como esteve na campanha. Até agremiações sem expressão maior, como o PP, o PL e o PTB, este responsável pela detonação do gatilho que fez explodirem os escândalos no primeiro governo Lula, exigem ministérios. O PT, pequeno e esfacelado pelas infindáveis denúncias e investigações envolvendo atos de corrupção de muitos de seus mais importantes membros, está sendo alijado do processo ou pelo menos empurrado para uma posição de segunda grandeza.
A luta não está sendo só por ministérios. Os que estão sendo paquerados para formarem as bases de apoio de Lula reclamam também 86 cargos nas estatais e bancos públicos. Deter uma parcela do governo, no primeiro escalão, numa administração que não tem uma linha programática e ideológica, é plantar-se na administração brasileira como condômino do poder. Quem ocupar esses cargos, sejam os de primeiro, sejam os de escalões inferiores, significa caneta cheia para nomear, poder político, capacidade para beneficiar suas patotas eleitorais e faturar os altos salários dos cargos. Mas a história tem demonstrado que neste, e em todos os governos passados, também houve faturamento através de maracutaias, negociatas, extorsão de comissões e outras artimanhas que fazem com que o dinheiro do povo migre para os bolsos de canalhas.
Nas estatais e bancos públicos há cargos muito cobiçados. As razões para cobiçá-los são todas as acima referidas e mais o fato de que uma Itaipu, por exemplo, tem um orçamento anual de R$ 5,6 bilhões e cada um de seus diretores ganha por mês R$ 18.000,00. Nos Correios, o faturamento é de R$ 10,8 bilhões anuais e o salário de cada diretor, R$ 20.000,00. No Banco do Brasil, o presidente ganha R$ 26.000,00 e os vice-presidentes R$ 20.000,00 cada um. E por aí começam as razões da gulodice por cargos de segundo, terceiro e paralelos escalões. Se Lula não conseguir o milagre de formar um governo menos loteado e mais uno, teremos um segundo mandato de casuísmos e sem possibilidades de seguir uma linha programática que beneficie a nação.