Salto del Guairá (AE) – A menos de uma semana do referendo para proibir ou não o comércio de armas e munições no Brasil, lojas de Salto Del Guairá, no Paraguai, estão fazendo promoções para atrair compradores. A cidade fica na fronteira com o Brasil, faz divisa com Mundo Novo, em Mato Grosso do Sul, e seu comércio é movimentado pelos brasileiros. A seção de armas da Queen Anne, uma das maiores lojas da cidade, oferecia ontem (15) uma linha de cartucheiras de calibre 12, por preços promocionais de US$ 390 a US$ 410. No Brasil, uma arma dessas pode custar o dobro. A loja aceita pagamentos em real, cheques e cartões de crédito.

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Cerca de 50% da clientela já são os brasileiros, segundo o gerente Dilermando Ferle. Ele disse que o resultado do referendo não deve influenciar seu negócio. "Nossa clientela é restrita a pessoas que continuarão autorizadas a ter armas." Ferle garantiu que vende entre 25 e 30 armas por mês, mas o movimento da seção conflita com esses números. As pessoas, a maioria brasileira, como o oficial de justiça Fernando Politi, entram e pedem para examinar o arsenal nas vitrines. "Estou doido para comprar uma dessas", diz, apontando uma pistola automática. A atração maior é uma Magnum 44, capaz de furar um blindado, que custa US$ 910. Otoniel Ferreira, fazendeiro do Paraná, que tem armas registradas, foi comprar munição. "No Brasil é três vezes mais caro."

Os irmãos Edson e Marcel Bertoni, também do Paraná, examinaram as escopetas da promoção, mas não compraram. A loja não trabalha com revólveres calibre 38, armas de "ladrão de galinha", segundo Ferle. A procura é por armas pesadas e potentes, como rifles, escopetas e pistolas de 40 a 45 milímetros. Empresas de segurança compram fuzis alemães e checos por US$ 1.200. "Os bandidos estão usando AR-15", justifica.

A Casa Rossi está vendendo caixas de balas calibre 38 por R$ 35,00. No Brasil, custam R$ 250,00. "É isso que estimula o contrabando", diz o proprietário brasileiro Leandro Costa Neto. No Brasil, gasta-se pelo menos R$ 2 mil para ter uma arma com porte e registro. "O governo brasileiro força o cidadão a ser ilegal."

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Costa diz que as autoridades paraguaias exigem atestados de bons antecedentes, residência no país e porte de quem quer se armar. "Mas o porte custa o equivalente a R$ 80,00." Ele vende mais munições do que armas e a principal clientela são fazendeiros e policiais. "Como o governo dá uma cota de balas muito reduzida para a polícia, eles vêm comprar aqui." Mas o Paraguai proibiu a venda de armas para turistas, segundo ele. Nas ruas, não é difícil conseguir quem se habilite, "por uma comissão", a comprar uma pistola ou uma calibre 12 para um brasileiro. "Compra como se fosse para ele", ensina o segurança que trabalha armado numa das lojas.

Passar pela fronteira com a arma não é tão difícil. A maioria dos carros passa sem nem sequer ser parada. Quando isso ocorre, a inspeção é bem superficial: o agente pede que se abra o porta-malas e pode pedir que se abram pacotes e bagagens. Costa, que administra o negócio com a ajuda dos filhos Andrés e Bruno, conta que muitos compram 50 caixas de munição para 38 e escamoteiam na lataria do carro. O contrabandista desembolsa R$ 1.750,00 e vende no Brasil por R$ 12.500,00."

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Plebiscito

Na fronteira, uma região onde a criminalidade é alimentada pelo tráfico de drogas e contrabando, a população mostra pouca informação sobre o referendo e, na maioria, é contra a proibição no comércio de armas. "Há risco de que muitas pessoas sejam obrigadas a entregar suas armas e isso aqui é perigoso", diz o prefeito de Japorã, Rubens Freire Marinho (PDT). Em seu município, que tem 40 km de fronteira, ele defende o "não" no referendo.

Ameaçado por fazendeiros depois de ter dado ajuda a um grupo de índios caiová-guarani, que disputam terras da região, Marinho pediu proteção à Secretaria Estadual de Segurança Pública. "Quem me ameaça certamente tem armas", diz. Por causa da violência na fronteira, a gerente hoteleira Rosa Barros de Oliveira apóia o fim do comércio legal. Seu irmão, Antonio, foi assassinado há um ano em uma fazenda no lado paraguaio e até agora não se sabe quem o matou. "Só sei que uma arma tirou a vida dele." Ela lembra que uma mulher conhecida na cidade foi morta pelo amante e deixou 4 filhos. Ele está foragido. "Se não estivesse armado…"

O comerciante Celso Ferreira da Silva, dono de um restaurante na margem da BR-163, diz que as pessoas têm medo de andar sem armas. "Aqui mora a cobra", diz, referindo-se à ação de criminosos como os que executaram, recentemente, 7 pessoas em Mundo Novo. O capataz de fazenda José Aurélio Nogueira disse que arma não resolve. "Deixa o camarada achando que pode tudo."

O comerciante João Pereira Carvalho, de Mundo Novo, vendeu armas durante 24 anos e agora apóia o desarmamento. Dono da loja Tiro Certo, há um ano trocou o arsenal por sapatos, artigos esportivos e material de pesca. "O Estatuto do Desarmamento já travou esse negócio", disse. Integrante do Centro de Tradições Gaúchas (CTG), ele vai se desfazer das 2 armas que possui "antes que os ladrões levem".

Os dois colegas de CTG, o veterinário Gouget Barbosa e o microempresário Carlos Degell também são pró-desarmamento, mesmo na fronteira. Na cidade, a maioria pensa como o garagista Paulo Ferreira Barros. "Quem vai desarmar os bandidos?" O cabeleireiro Manoel Jerônimo da Silva diz que, mesmo se o "sim" vencer, o porte de armas deverá ser autorizado na região da fronteira.