A Prefeitura de Curitiba já retirou das ruas cerca de 33 toneladas de lixo eleitoral. E ainda há muito mais, aguardando o segundo turno do pleito e muitos turnos da limpeza pública. Dizem que neste ano o lixo foi bem maior que no último pleito. E não existem estimativas sobre quanto papel desperdiçado, sujo, rasgado, emporcalhando as vias públicas de todas as cidades do Brasil, foram recolhidos ou ficarão a entupir bueiros. A coisa já foi pior. Nos pleitos anteriores havia também muita pichação em próprios públicos e privados, que felizmente diminuiu na medida em que medidas legais ameaçaram os porcalhões de punição severa.
Em enquetes feitas por jornais, emissoras de rádio e televisão, antes do primeiro turno, verificou-se que a grande maioria da população é contra esse tipo de propaganda eleitoral. Mais do que isso, diz-se contra os próprios candidatos que as usam. Mas, como o costume é generalizado, é difícil detectar quais os candidatos mais civilizados que a dispensam, preferindo ater-se ao campo das idéias, propagando-as de formas mais convenientes e profícuas.
A campanha eleitoral com profusão de papelada mais se assemelha a um desfile de Carnaval que a um processo democrático de escolha de legisladores e governantes. Estamos, entretanto, diante de um mal menor. Pior que o lixo eleitoral que se acumula às toneladas Brasil afora, é o lixo eleitoral que se constitui nos maus candidatos, levados ao povo vestidos de cetim, travestidos de verdadeiros homens públicos. São muitos os candidatos e, desgraçadamente, também vários os eleitos, que podem ser considerados lixo, já que estão distantes, na vontade e na capacidade, das condições que deveriam ser exigidas para receber mandatos populares. Nesta e em eleições passadas não faltaram sequer os candidatos que procuravam se notabilizar pela propaganda jocosa, ridícula e pelos apelidos criados só para a campanha.
É evidente que, numa verdadeira democracia como pretendemos chegue a ser a nossa, não se há de exigir dos candidatos cursos de política. Política do bem comum. Mas a sujeira eleitoral nos indica que, no âmbito da legislação pertinente e em especial dos partidos políticos, é hora de se fazer uma triagem que, pelo menos, exclua os piores. E os exclua de forma democrática, as agremiações políticas, por seus membros, eliminando a priori aqueles que não têm espírito público, conhecimentos e competência para apresentar-se como candidatos ao sufrágio popular. Ou, como aqui pregamos por mais de uma vez e, nesta campanha eleitoral, tivemos a satisfação de ver nossa tese repetida por outras pessoas, que os partidos políticos sejam co-responsáveis pelas sujeiras e besteiras que façam os maus candidatos aos quais ofereçam legenda.
A maioria dos eleitos parece ser gente de bem, com boas intenções e muitos de comprovada capacidade. Há uma renovação substancial nos parlamentos brasileiros, o federal e os estaduais, e se houver estreita vigilância da imprensa e da população talvez consigamos, no próximo governo, que desapareça o costume de espalhar lixo eleitoral, seja de propaganda, seja de maus representantes do povo, alheios ao interesse coletivo.