Parte da história de Foz do Iguaçu, das primeiras décadas do século passado, foi resgatada com a reedição do livro ?Descoberta de Foz do Iguaçu e Fundação da Colônia Militar?, de José Maria de Brito.
O livro escrito originalmente em 1938 teve sua reedição prefaciada pelos jornalistas Fábio Campana e Zé Beto Maciel. A nova edição traz ainda um adendo sobre manuscritos do Ministério do Exército de 1907.
Para Zé Beto Maciel, o livro e seu adendo são muito mais do que uma simples narrativa e uma transcrição de ata militar. ?Lá está parte da história de Foz do Iguaçu perdida pelos cantos, esquecida nas gavetas e que podem explicar muito do que a cidade é atualmente?. ?Seus registros e sua publicação são de tamanha importância porque contextualizam o começo da nossa história ocidental, aquela escrita em português castiço dos anos 30?, completa.
Os relatos foram escritos pelo sargento da expedição militar que partiu em 1888 do Rio de Janeiro para foz do Rio Iguaçu. ?Depois de vários ofícios, Maria de Brito acabou como professor abandonado, doente, sem recursos, não lhe restando outra alternativa a não ser escrever um livro e contar a fantástica aventura de enfrentar a mata, rios, bichos e uma bugrada até que mui amistosa até a ?descoberta? de Foz?, diz o prefácio de Beto Maciel.
?O interessante de José Maria de Brito é que, antes de contar a aventurosa expedição, ele contextualiza o panorama histórico-político-social da época, reinado, exército, república, o que atrasou e porquê se atrasou a formação de uma expedição para a descoberta de Foz do Iguaçu?, diz Maciel a respeito do primeiro capítulo.
O segundo capítulo narra a própria aventura sob o comando do capitão Bellarmino Augusto de Mendonça Lobo e do tenente José Joaquim Firmino. ?Por ocasião da descoberta da Foz do Iguaçu o território brasileiro já era habitado. Existiam no mesmo 324 almas, assim descritas: brasileiros, 9; franceses, 5; espanhóis, 2; argentinos, 95; paraguaios, 212; ingles, 1?, descreve José Maria de Brito no livro.
O terceiro capítulo, José Maria de Brito, trata da fundação da colônia militar. O sargento conta entre outras impressões mais vertidas que os militares tiveram sucesso na empreitada graças o apoio de dois casais ? Izaias Penna (brasileiro) e Joanna Roza (uruguaia) e de Feliciano d?Araujo (brasileiro) e Andréa Vera (paraguaia) ? o que mostra a importância dos mestiços na ocupação da região.
O mais interessante é que o próprio José Maria de Brito, nomeado chefe dos índios da região de Guarapuava e Catanduvas, casou com uma índia, fez família, ocupou vários cargos públicos até que se rendeu na função de professor rural em Foz do Iguaçu.
?Cansado, doente e privado do mínimo para sua subsistência, José Maria de Brito debruçou-se em 1938 e escreveu a ?descoberta?. Morreu pouco tempo depois em 1942 num dos leitos da recém criada Santa Casa Monsenhor Guilherme. Morreu abandonado na companhia de uma filha e da enfermeira Irene Vera?, contextualiza Maciel no seu prefácio.
?É por isso que ?descoberta? é um livro fundamental, escrito por um remediado, que se não fosse pelo abandono e pela falta de dinheiro, não deixaria uma obra, apesar de curta, tão singular?.
Já ?Manuscritos do Exército? faz parte de relatórios do Ministério do Exército que se encontra no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. É a transcrição de uma espécie de ata de uma audiência feita pelo Exército em 22 de novembro de 1907 com os colonos de Foz.
Nela consta a seguinte denúncia: "Julio Gutierrez, colono matriculado, queixa-se de não poder cortar lenha nem fazer erva, quando os negociantes fortes o fazem seguidamente, taes como Jorge Schimmelpfeng, Fulgêncio (sobrenome ilegível) e Leôncio Alves?.
?Até hoje não lhe demarcaram o lote, o que lhe (ilegível) pelo resultado de seu trabalho. Cortava herva em terrenos de colônia, devidamente autorizado quando Jorge Schimmelpfeng tomou-lhe o terreno, peões e tudo o que tinha, pondo-o para fora do local, cobrando-lhe ainda 25 contos por cada 10 kM2 de herva. É fiscal dos ervaes o irmão de Jorge".
Serviço:
Descoberta de Foz do Iguaçu e Fundação da Colônia Militar, José Maria de Brito, prefácios Zé Beto Maciel e Fábio Campana ? adendo: Manuscritos do Exército de 1907, 112 páginas ? Travessa dos Editores